sábado, 27 de fevereiro de 2010

Eureka!


Fui ver “Educação”, filme bom de ver e bom para pensar no sentido de se educar e de querer educar, no que vale brigar para ter uma, em quanto ela custa, em antagonismo com o que é fácil, rápido, amoral, imoral, o que não bate (e não tem como bater), o que é de verdade, o que tem qualidade, o que se tem e até quando, os prazeres e os preços possíveis e justos. O valor do pensamento, o respeito pela experiência. Sensibilidades, valores invertidos, escolhas. Cada um faz a sua, mas é preciso saber que não se reinventa a roda facil e impunemente. A conta é certa, e é curioso observar quem paga, quem lucra.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Casa – vide bula


A geografia já restringe a cidade, espremida entre o mar e a montanha. Aliada à cultura de que todo mundo tem que estar sempre por cima da carne seca, isto é, perto ou não muito longe da praia, a cidade fica ainda mais restrita. Se você não gosta de túnel, e tudo o que pretende atravessar é o Túnel Velho ou o Túnel Novo, fica bem complexa a tarefa de achar um apartamento no Rio.
Primeiro mandamento: cuidado com o corretor! Pela lógica, em qualquer negociação, procura-se o profissional do ramo. Não aqui, com o perdão das bem vindas exceções de praxe, mas elas são raras mesmo. A maioria é mero atravessador e em terra de pouca formação e honestidade duvidosa, prepare-se para ser assediado com ofertas disparatadas do que você nem sonhou em solicitar. Você esclarece bem, fala português claro, mas no dia seguinte te oferecem a mesma coisa que você recusou na véspera, no mesmo bairro que você não quer, e explicam: “é que esse baixou de preço!” Sem chance de entenderem que o que você NÃO quer não interessa se é barato ou caro... e que esse argumento só serve para você desconfiar e fugir, já que nada cai de preço, há muito tempo, nessa cidade, onde olimpíada, copa do mundo, aumento do teto do fundo de garantia, economia aquecida, novela (já que existem, que fiquem para sempre no Leblon!), tudo junto virou uma espécie de sputnik inflacionário para elevar o preço dos imóveis cariocas às alturas. Isso, com o auxílio indispensável – no mal sentido - dos corretores de imóveis. Parece que todos assistiram a uma só aula, porque todos repetem “o mercado está louco, mas estão vendendo feito água”.
Tudo isso acabou atraindo duas categorias para o ramo: advogados e porteiros. Alguns escritórios de advocacia abraçaram o ramo da corretagem. Seria de se esperar que pelo menos a situação legal dos imóveis estivesse assim garantida, mas o que muda é apenas o jargão, os problemas continuam os mesmos, papéis na maior desordem, você espera e perde dinheiro do mesmo jeito.
Porteiros costumam ter as informações em primeira mão, e no final ficam felizes só com uma gratificação. Estão enfrentando a revolta dos corretores, que em vez de ir para os jornais reclamar da concorrência, deveriam é brigar para melhorar o nível da categoria e prestar melhor serviço, porque os melhores apartamentos geralmente não chegam através deles.
A música popular, que para mim é voz de Deus, diz que ninguém tem nada de bom sem sofrer. Aqui, cai como uma luva. Se você é exigente, vai penar. Nessa longa estrada, minha preferência fica com os porteiros. Certeza de achar o que quer, nunca se tem mesmo na vida, mas encontrei gente da melhor qualidade, informação de sobra e até sabedoria. E diversão garantida. Começam assim: “eu sou só um simples porteiro, mas se eu fosse comprar, perguntaria...” e com dois dedos de prosa vão desfiando os podres do prédio. E não enrolam: “madame, aqui, pode desistir, esse prédio é todo de um político, aquele é de um delegado, e não vendem não, vai passando de uma geração para outra, tudo usos e frutos, sabe como é?”
Nesses dias de calor, vendo uma barata sair do jardim em direção à candidata ao imóvel anunciado no prédio, prestes a presenciar uma vexaminosa subida no sofá da portaria, o porteiro perguntou impassível: “é caso de matar?”
Pela reação dele, tinha visto a bichinha nascer, crescer...Achei o prédio meio mal cuidado e perguntei se ele trabalhava lá havia muito tempo. Ele pensou, perguntou: hoje é dezenove do mês?
Diante da resposta afirmativa, completou: “vinte e três anos”.
Acabam amenizando a procura.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eco e Narciso


Eco, a ninfa das fontes e das florestas, como já tinha acontecido com muitas outras ninfas, se apaixonou por Narciso. Ele era bonito e desejado, e não se comoveu com o amor de Eco – estava acostumado, afinal, era apenas mais uma ninfa. Ignorada pelo seu amor, e inspirada por Nemesis, a deusa da retribuição, ela lançou uma praga – que pegou – e que fez com que Narciso, recostado no pé de uma fonte, visse sua própria imagem e se apaixonasse por ela. Seus pais já tinham sido advertidos por uma adivinha quando ele nasceu: ele não poderia olhar para si mesmo.
Eco fazia parte da turma da deusa Hera, irmã e mulher de Zeus. Tinha uma voz linda, e distraía Hera com suas histórias enquanto Zeus se divertia com as ninfas. Quando Hera percebeu, condenou Eco a apenas repetir as palavras que outros dissessem.
Passando pelos campos, Eco encontrou Narciso mas não conseguiu revelar o seu amor. Rejeitada, ela se retirou para a floresta e morreu. Seus ossos viraram pedras e tudo que restou dela foi sua voz. Narciso virou uma flor.
A mitologia grega tinha um jeito lindo de falar da realidade e de traços mais do que humanos.


Essas duas obras primas estão entre as primeira peças metálicas de grande porte fundidas no Brasil. Faziam parte do Chafariz das Marrecas, de Mestre Valentin, no centro da cidade, e foram salvas pelo antigo diretor do Jardim Botânico na época em que o chafariz foi destruído. Como tudo no mundo e na vida, sortes e infortúnios se misturam: elas hoje embelezam o Jardim Botânico do Rio, que por sua vez não existiria se as tropas de Napoleão não tivessem feito D.João VI fugir para cá de mala e cuia.