quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O ESPÍRITO DO NATAL


Mesmo de folga, tento limpar com freqüência a caixa do meu e-mail do trabalho, sempre transbordando, e me deparo com uma enxurrada maior de mensagens, mesmo considerando a sobrecarga que os votos de boas festas provocam todo ano.
Espírito natalino em tempos de internet: começou com os votos de uma assessoria, das várias dezenas que superlotam diariamente a minha caixa, a maioria mandada por assessores que não sabem o que fazem, não consideram o tempo que perdem com oferecimentos totalmente equivocados e que me fazem perder deletando tudo. Aí, não sei se por distração ou defeito, todas as respostas seguiram para todos.
A primeira resposta aos votos:

- Obrigada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ...

A segunda, até com mais cortesia:

- Muito obrigado, que todos tenham um feliz natal e um ano novo cheio de felicidades. Um abraço, ...

A partir da terceira, a paciência vai acabando, o tom já muda, mas a atenção automática se mantém:

- Quem foi o idiota que me botou nesta maldita lista de e-mails spams? Vão pro inferno! Atenciosamente, ...

Pensou um pouco, e contemporizou:

- Apesar de tudo. Feliz Natal e próspero Ano Novo a todos da lista. Agora me excluam, por favor. Atenciosamente, ...

O problema é que depois da resposta, ele recebeu uma “tréplica” com votos ainda mais efusivos! E mais uma vítima se manifestou:

- Nossa, estou recebendo esses emails desde a manhã de hoje, não conheço ninguém, mas dizer Feliz Natal e me excluam foi de uma indelicadeza!!! Feliz Natal pra vc tb Sr. ( o tipo que reclamou mais em cima). Ah! Não precisa responder a esse email.

Outras se seguiram:

- Eu também quero ser excluído.
- Por favor me excluam dessa lista! E respondam só pra quem enviou o e-mail.
- ... Não sei como vim parar nessa lista, gostaria de ter meu nome retirado... feliz natal, anyway!

- Prezad@ webmaster, também gostaria de sair da lista.
- Me retirem também dessa lista, por favor...
- gostaria que retirassem meu nome da lista Obrigado

- Parem de enviar email para todos. Isso está lotando a caixa de mensagem.

- Me excluam tamém. Please!!!!

- Agradeço pelas mensagens, ...

- Desejo a todos bom natal e nom ano novo e também desejo retirar o nome da lista.
No fim da mensagem há um email para descadastrar. Vou tentar. Tentem também.

- Oi queridos! Feliz natal a todos...me excluam tb
Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

- Desejo a todos , que eu ainda não conheço, um Feliz Natal.
Por favor tambem retirem meu nome da lista, grata, ...

- Eu também peço que retirem meu nome, por favor... senão não darei conta de ler tanta coisa!
Obrigado e boas festas a todos.

- Feliz Natal!
POR FAVOR, RETIREM O MEU NOME DA LISTA!

- ta mal...eu enviei para o tal do email de descadastro e recebi mensagem de erro...
por isso tentei direto no site da RITS, mas acho que não vai funcionar...

- eu garanto a todos que pedir para sair da lista não vai resolver...só vai reproduzir a todos um email a mais...
creio que é melhor deixar de escrever e pronto...
ai mais ninguem recebe emails...
só isso...se abstenha de pedir para sair e tente entrar em contato com o site da RITS...
ou simplesmente reze para eles não mandarem mais mensagens.
paz e bem, márcio

- Feliz Natal a todos e por favor excluam meu nome da lista.

- Também eu agradeço pela gentileza e desejo tudo do bom e do melhor, mas, por favor, me retirem da lista.

- Caros,

Poucas vezes vi tamanha falta de civilidade em minha vida.
Vocês recebem tanta coisa muito mais inútil do que esta mensagem de Natal... Francamente...
Ao ler os e-mails de vocês, entendo o porquê de tanto ódio no mundo...
A organização que enviou esta mensagem, assim o fez com a melhor das intenções...
Nem isso vocês foram capazes de perceber.... É de fato lamentável...

- Se vcs pararem de mandar mensagens, ninguem mais recebe nada...
- Se vocês se sentiram incomodados, peço que não respondam a todos, somente a…
- Estou tentando sair dessa lista também, sem sucesso!
-Por Favor este é um orgão governamental não temos interresse em receber esse tipo de mensagem, é possivel nos excluir também?

-Favor excluir meu email desta bosta!!!!!!!!!!!!!

Dei minha contribuição não respondendo. E paro por aqui, agora, é deletar. E enquanto deleto, penso, como em todos os anos, se há mais sinceridade ou formalidade nessas confraternizações marcadas por datas que se tornaram mais convencionais do que verdadeiras, como eram para os nossos pais, ou já foram um dia na nossa vida.
Sempre me vem a nostalgia e uma ponta de inveja mesmo de quem comemora fervorosamente na missa natalina, capricha na árvore, recebe família e ou amigos com muita animação e vive intensamente o seu Natal. Tenho saudades de tempos muito mais simples, em que a grande novidade era ir à Missa do Galo, à meia-noite, com os meus irmãos e a minha mãe, em tempos pré-violência, fosse onde fosse, no Rio, em Itaipava, em Petrópolis. Mais tarde, de quando a filha e os sobrinhos acreditavam em Papai Noel. Singelos tempos, mas é com novas alegrias que a gente lida e se aquece, e sinceramente.

Na minha vida, a internet entrou pra valer – arranjei um blog que me traz trabalho sem nenhum tostão, é muito mais subjetivo do que objetivo, mas de maneira nenhuma um tempo perdido, ou eu não estaria aqui. Sou grata também pelos blogs e sites que leio, essa rede me enriquece e alimenta a cada dia, de muitas maneiras.
Não vou pretender pensar no sentido da vida, mas o dessas datas, religiosas ou não, como o sentido de todos os calendários, acho que é o de renovar, recomeçar, avançar, e apenas guardar o que vale guardar.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Palavras não são apenas

Por que será? Tantas palavras boas terminam com ia: alforria; a campeã: alegria; cantoria; um nome bonito: Maria; hum, ambrosia; jelosia – fecha e abre segundo a nossa vontade; algaravia. E a sempre almejada: harmonia.
Sozinho, esse encontro de vogais não funciona: ia, não foi. Mas palavra lá tem culpa?
Resultam da lida e da inteligência dos homens, e encerram mais do que o dicionário diz que são. Um nome não é feito só das letras com que é escrito, mas do que o nosso sentimento faz com ele.

Por gostar palavras e de flores, no Jardim Botânico descobri acidentalmente hoje que Bogari, que antes era para mim apenas o nome de uma rua, é uma rua porque é um jasmim.
E assim um pequeno nome de seis letras ganha forma, cor, perfume, e acalma os sentidos dos passos que a gente dá em uma calçada.


sábado, 11 de dezembro de 2010

Estrela, aquela (e o que mais nos conduz)


Volta e meia tenho vontade de escrever sobre o Botafogo, mas a primeira vez que fiz isso já me mostrou que é mexer em casa de marimbondo – minha postagem foi rastreada na rede e minha porção botafoguense foi questionada por conta de uma frase dúbia, não era nem afirmativa!
Eu não aprendo.
Outro dia ouvi uma admoestação de um colega que me disse que era o cúmulo ter nascido entre fundadores do clube e pensar - nem pensar! - em não ser botafoguense. Afinal, era “um clube de elite!” Fiquei espantada, de tanto que sou desconfiada das elites, estejam elas onde estiverem. Não importa se é na torcida do Botafogo que elas se encontram, não estaria com elas apenas por se sentirem a nata da nata, porque elite aqui não significa ser superior ou destacado e sim ser ou ter sido privilegiado e protegido, e nesse sentido, me parece que o Botafogo não apenas foi, ao longo da sua história, mas que isso ajuda a vestir a camisa com mais orgulho. Admito a minha ingenuidade: acreditava que pessoas que se sentem privilegiadas tivessem alguma solidariedade com as que eles não consideram que “nasceram em berço de ouro”. Nem explicitassem com tanta falta de cerimônia o preconceito contra o Flamengo da forma que já presenciei mais de uma vez, e não foi no calor da vitória nem na derrota. Quando o Fluminense ganha, o que mais ouço é: “bom, pelo menos não é o Flamengo.”
O Botafogo é a paixão mais marcante, cega e constante da quase totalidade da minha família, e reconhecer que quem jogou melhor tem o direito de ganhar uma partida não consta no dicionário dos apaixonados.
Eu até entendo, mas não consigo deixar de pensar no que seria do vermelho, ou do verde se todos gostassem do preto e branco, nem achar que isso seria mais normal do que se ajoelhar diante de uma estrela como se fosse a Meca (bom, eu nem entendo a Meca, mesmo...)
Lembro que um dia o Caulos fez uma charge no Jornal do Brasil que tinha uma estrela - não a do Botafogo, era a estrela do Natal que ele questionava – mas teve que dar explicações à minha avó, num telefonema, às sete da manhã.
Lembro também que ela ouviu de uma pessoa ligada ao clube, um comentário desabonador sobre o Botafogo. Ela não teve dúvidas e ligou para a diretoria. Prometeram tomar providências, mas desabafaram: - “Também a gente não poderia imaginar que a senhora estaria vigilante, assistindo a uma mesa de futebol que foi ao ar a uma da manhã!”
Eram, e continuam sendo, onipresentes. Olha o risco que eu corro...
Já ouvi dizerem que o Engenhão está muito mal conservado, e quem diz são os jornalistas – todos suspeitos de serem botafoguenses. Verdade é que o Botafogo não cuidou bem das suas sedes. Eu aqui não saberia citar fontes, mas um verdadeiro botafoguense deveria saber, e se defender! Eles têm toda razão de questionar o meu pedigree...
Distraída como sou, vou deixar de lado esse assunto. Aqui, sempre me interessou mais a questão da paixão do que a do futebol, e como não espero que nenhum marmanjo me absolva, acho mais seguro ser discreta com as minhas, e tratar das menos polêmicas.
Na linha de paixão incondicional e declarada, no começo da fila, não há como não pensar em filha - digo filha, porque é o meu caso. Não torturei a minha obrigando a torcer por um time que não ganhava havia muito tempo.

E se tivesse tido mais uma, teria chamado Isabel. Não pela princesa, mas pela Vila. Ela não ia reclamar! Samba é mesmo um feitiço sem farofa.
Mas farofa...huuuum...

“Eu sei por onde passo
Sei tudo que faço,
Paixão não me aniquila
Mas tenho que dizer
Modéstia à parte, meus senhores,
Eu sou da Vila” ( Noel Rosa)

Viva o centenário Noel!

Obs: a foto é da inauguração da pedra fundamental do Botafogo F.C.
A seta que indica "papai", mostra o meu avô.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Crônica de Paquetá





















Paquetá, linda ilha de amores
Paquetá és um ninho de flores
Tens as praias vestidas de sol
E tem sereias que se pescam sem anzol!

sábado, 4 de dezembro de 2010


O Fado De Cada Um

Bem pensado
Todos temos nosso fado
E quem nasce malfadado,
Melhor fado não terá!
Fado é sorte
E do berço até a morte,
Ninguém foge, por mais forte
Ao destino que Deus dá!

No meu fado amargurado
A sina minha
Bem clara se revelou
Pois cantando
Seja quem for adivinha
Na minha voz soluçando
Que eu finjo ser quem não sou!

Bom seria poder um dia
Trocar-te o fado
Por outro fado qualquer
Mas a gente
Já traz o fado marcado
E nenhum mais inclemente
Do que este de ser mulher!

Amália Rodrigues

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O bom, o mal, o melhor: não Veja, pense!


Vi uma bomba de filme, que prometia muitas gargalhadas, e por teimosia fui checar: o bonequinho da crítica do jornal aparece aplaudindo de pé. Só não tive mais vontade de ter meu dinheiro de volta - não o do jornal, que eu não comprei, só olhei - porque gosto de sair para ir ao cinema, e porque já sei há muito que é cada vez mais provável ver um filme fraquinho do que sair do cinema achando que valeu o preço do ingresso. Agora fazem filmes para uma faixa de idade que não é a minha, que não tem idade para ter a formação que a minha geração teve, e que vai mais ao cinema porque sai mais, como eu fazia quando tinha 20 ou 30 anos. Quem é mais jovem costuma sair mais de casa, não falo só de cinema, parece que é da vida mesmo (se não é, quero meu dinheiro de volta!), mas não era nisso que eu pensava quando comecei a pensar e a escrever. O que é bom resiste, porque em casa revi As Good as It Gets, um filme de 1997. Deu um Oscar de melhor ator para o Jack Nicholson, e acho que ele ganharia agora do mesmo jeito. Falei do filme e registrei logo duas aprovações vindas de gerações mais novas.
Mas também não era nisso que eu queria falar: pensava é no quanto me aborrece perceber como se manipula, distorce, condena e repete conceitos e atitudes sem parar para pensar ou se informar com cuidado. É cansativo ouvir falar mal dos Estados Unidos justo no que eles têm de bom, mesmo vindo de quem ignora o que eles têm de deletério. A produção cultural americana é fantástica, há mais de um século, em todas as áreas, embora o que se produza de bom lá seja em grande parte ignorado por aqui (o que nos chega é o que a mídia escolhe divulgar ou patrocinar).
A orientação moral – não estou falando moralista – e era disso que eu queria falar, só melhora a formação das pessoas, educação se dá de várias maneiras, mas aqui, o que se rotula de politicamente correto é tratado com superioridade e desprezo. Mostrar maus modos, maus sentimentos, péssimas atitudes, mesmo com uma moralzinha “salvadora” ou justiceira no final, só banaliza- o que resulta em quase legitimar - o que não se deve fazer, e falo de novelas que já cansei de não ver, mas basta olhar parte de um capítulo para constatar o que estou falando.
Já num filme como este, diversão e arte à parte, o que fica é a ausência ou a superação do preconceito com relação ao homossexualismo, ou às diferenças sociais, a crítica a um sistema desqualificado de saúde - sabemos bem a que a privatização da saúde leva. Ficamos com a generosidade do ser humano, justo vinda de quem tinha mais dificuldades a superar, e ficamos com a dica para não sermos ligeiros nos nossos julgamentos ou conclusões.
Aqui ainda se faz, com frequência, humor explorando o preconceito e a falta total de humanidade e educação. Dá mesmo um cansaço ver o longo caminho que temos a percorrer, mas para um país que esbanja energia e esperança, e salve ela, o desafio só estimula.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nem céu de brigadeiro nem mar de almirante



A Revolta da Chibata, talvez o episódio popular mais conhecido da história do Brasil, completa 100 anos. João Cândido Felisberto, o “Almirante Negro” e os marinheiros amotinados só foram anistiados recentemente, em 2008.
O que detonou o levante foram as 250 chibatadas aplicadas em um marinheiro, mas a revolta já se formava desde que alguns marujos foram à Inglaterra e descobriram que só a esquadra brasileira ainda adotava castigos físicos. O que esse movimento teve de diferente dos outros foi o embate entre classes sociais diversas e também ter conseguido espaço nos jornais e nas conversas de rua. A abordagem da mídia era muito rígida e não dava espaço para nenhuma reflexão, mas apesar da visão crítica com que era tratado o episódio, ele não pode ser abafado.
A verdadeira história do Brasil começou a ser contada muito recentemente, a que eu aprendi na escola estava mais para história da carochinha. Aconteceram por aqui dezenas de movimentos que não mereceram o devido registro e são pouco estudados, mesmo com a farta documentação, eram olhados como criminosos quando não tinham origem em uma classe privilegiada. “Vindo de baixo, é crime”, explica o professor Hiran Roedel, da UFRJ, e é no jornal da universidade* que leio uma matéira sobre a Revolta, que se deu de 22 a 27 de novembro de 1910. “A república no Brasil não significou um processo de redemocratização. Ela veio para manter a política como privilégio de poucos". Os oficiais da Marinha vinham de famílias da alta sociedade, e o restante da tripulação era recrutado nos centros urbanos de um país que saía do tempo da escravidão. Os marinheiros eram, em sua maioria, filhos de escravos ou ex-escravos, enfrentavam problemas com a alimentação precária e insuficiente, mesmo sendo parte da "Esquadra Branca", orgulho do país, a terceira potência naval do mundo.
Estudar o Brasil de cem anos atrás não poderia ser mais atual para compreender o tratamento que ainda hoje é dado a quem ousa fazer política sem ter sido ungido pelos donos do poder por aqui através dos séculos. Quem mandou? A classe média, ascendente, tem os olhos voltados para cima, não quer tomar conhecimento ou quer esquecer quem está por baixo.
Só nos resta esperar que a história política do século XXI no Brasil não seja estudada nos jornais da época, a não ser para constatar o desesperado esforço para que tudo continue como dantes, per omnia saecula saeculorum, até o fim dos tempos.

* Jornal da UFRJ, edição de abril/2010 - Salve o "Almirante Negro", de Andreza de Lima Ribeiro.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Micro & Macro


Quando Clarice fala, com aquela claridade própria dela, que já nasceu incumbida, eu entendo completamente. Talvez esteja lá no bêabá da psicanálise, que eu desconheço, mas como me vem à cabeça a frase de Hey Jude, “don’t carry the world upon your shoulders”, vejo que é humano sentir o peso do mundo nos ombros.
Depois do evento tão desgastante e grandioso que foi e que é uma eleição brasileira, passei a pensar que talvez eu seja muito egoísta. Almejo, com toda a sinceridade e pureza da alma, uma vida amparada e satisfatória para os meus iguais, e iguais, no que diz respeito a direitos, realmente considero qualquer ser humano vivo neste planeta, começando pelos meus conterrâneos. Isso não é uma utopia, é uma obrigação das nações desde que se organizaram assim, e as mais organizadas chegam muito perto disso.
Se você recebe e administra a mensalidade de um clube, aquele dinheiro serve para pagar as despesas de manutenção, pagar a quem trabalha para que ele funcione, e os benefícios são de todos os sócios. Não é mais ou menos assim que deve funcionar um país? O que é comum é para ser partilhado por todos. Quem acha que não pode ser assim, eu acho que é porque quer uma parte maior para si, e tem gente que advoga isso até como regra divina, de tanto que se sente à vontade com uma fatia maior do bolo, ou o seu pirão primeiro. Pode soar muito simplista, mas acho que tudo é uma questão de escala, não é preciso reinventar a roda para grandes explicações.
Acho que é por isso que sempre votei pensando em liberdade, igualdade, fraternidade. Quem sabe é uma espécie de egoísmo?
Pensei nisso quando li uma vez que a grande liberalidade do povo holandês é na verdade um traço individualista muito forte, que tem uma fronteira muito tênue com o egoísmo. Fui conferir o que é liberalidade para ver se estava empregando a palavra certa, e achei como sinônimo generosidade, condição de ser liberal ao dar algo. Curioso porque eu entendo assim, mas acho que no mundo neo-liberal uma grande quantidade de cinismo se infiltrou entre o prefixo e a palavra, estragando tudo, mas é curioso mesmo como os extremos se esbarram.
Tenho particular apego ao lado La Rocque da família da minha mãe, primeiro, porque gostava do nome, que ela não nos deu, achou que o nosso já era comprido o suficiente, mas ao longo da vida, fui percebendo traços – sem medo de parecer pedante ou colonizada, o que sei que somos, não tem jeito - mas por constatar muita identidade com a região francesa da Bretanha, no norte do continente europeu, a começar pelo paladar. Quem sabe então sou mesmo bem egoísta, querendo que todos comam, estudem e morem, para poder cuidar da minha vida? Afinal, igual à Clarice, e infelizmente esse é o traço em que mais me assemelho a ela, nasci incumbida. Desde que me entendo por gente, cercada por minha grande família, sempre tive que cuidar um pouco de alguém. Não é uma queixa, é só uma constatação, porque não pode se queixar quem como eu, nesse ponto da estrada, ainda tem energia e possibilidade de se dedicar a tijolos, tintas e azulejos para fazer o que bem entender.
Meus melhores pensamentos vão para quem se dedicou, se empenhou e em última análise, votou para uma divisão mais justa e proveitosa para o país onde nascemos e vivemos. O conceito de humanidade me agrada muito mais do que o de nação, mas isso não significa falta de compromisso com o nosso país, se ainda falta tanto para podermos realmente nos orgulhar dele.
Aliviados e menos incumbidos por hora com a nação, podemos cuidar um pouco do nosso quintal, sem esquecer que o preço da liberdade é a eterna vigilância – se o clube é nosso, o zelo por sua boa administração também deve ser.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vitória e conquista


Sou de um tempo em que ainda se ouvia uma ou outra pessoa dizer: “ não gosto de política”, como coisa que não faz parte da vida, e não soava estranho.
A troca de um presidente pode não mudar muito a vida da maioria da população em países mais organizados e menos desiguais, mas no Brasil, embora os desastres naturais não sejam tão violentos como no hemisfério norte, estamos sempre à beira de um grande susto nos períodos de eleições.
Para mim, a alegria e confiança com que voto é inversamente proporcional aos desacertos que as eleições me trazem: eleição é época de perder ou se afastar de amigos. É época em que nem se pensa em fazer uma reunião familiar – isso é fato na minha família. Época de pisar em ovos. Triste, não? E será que faz sentido?
Lamento constatar que minhas origens e o meio em que circulo tem muito de preconceituoso, autoritário, elitista, egocêntrico e egoísta, embora seja capaz de se julgar justo o contrário. Não estou ligando nenhum nome a nenhuma pessoa, mas assim, olhando de longe, habito aquela tripinha azul dos mapas eleitorais, bem no litoral carioca, indicando o voto conservador... como é que eu poderia querer que minha vida fosse diferente?
Pois acho que poderia e deveria, se o país fosse outro. E ainda vou vê-lo diferente, mesmo que tenha que viver um século.
Tenho pessoas memoráveis na familia. Ninguém acha que não é, mas sempre ajuda fazer uma inspeção no próprio rabo. Não se costuma condenar por aqui o lema: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Farinha? Pirão? Nem faz parte do nosso vocabulário, não é mesmo?
Nasci aqui, mas nasci assim. Fui criada por um pai ovelha negra da família, que não pretendia fazer nenhuma revolução, mas fazia sem querer. Ele já se foi há 30 anos, mas essa semana ouvi, de um amigo dele, que ele foi o único médico socialista que conheceu. Ele se assustaria com o rótulo, não era politizado, tinha apenas senso de justiça e um coração desorganizado, mas muito bom. Minha mãe, católica fervorosa, nunca se envolveu diretamente com política, mas seguia ainda mais ao pé da letra seu generoso coração. Foi assim que eu me blindei, como se diz muito agora, contra qualquer outra influência externa. Não tenho nenhuma dificuldade em escolher candidatos, porque não voto achando que entendo o que eu não entendo: não entendo que o país não pode ter comida para todos, porque comer é muito bom, portanto quero que todos comam. Fiquei feliz de votar para isso.
Quero também que todos estudem – fiquei satisfeita com os avanços nessa área. Que comprem, construam ou reformem casas, o que eu estou fazendo, e acho bom. Vi várias pessoas ao meu redor comprarem casas, embora não liguem uma coisa à outra, mas nos oito anos do governo FHC(toc!toc!toc!), de triste memória, vivíamos aos sobressaltos e não sobrava dinheiro para nada. Justificativas e explicações complicadas mas capengas não me convencem.
Sempre que saio do país, constato com muito prazer que temos um presidente tão popular quanto Pelé, no mundo todo, e sempre no bom sentido. E ele não arriscaria essa fama - que não é pouca coisa - apostando em quem não conhecesse ou confiasse. Eu quero é ser feliz! E é impossível ser feliz sozinho, diz um dos meus guias da música popular. Neles eu acredito, como acredito que a voz do povo é a voz de Deus.
O problema é que popular não é palavra muito popular em todo lugar...
Desejo de coração que todos pensem com sinceridade na hora de votar, e com a própria cabeça, e não escolham o medo, nem a mentira, nem a fragilidade de denúncias duvidosas como bolinha de papel!
Vitória a qualquer preço? Não! Quem estipula o preço somos nós, nossa consciência, nosso coração. Sinceridade é coisa a ser respeitada. Quando ouço falarem em régua, e tenho ouvido isso em todos os debates políticos, prefiro pensar na régua e no compasso que a Bahia já nos deu. Axé para todos, e paz!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Diário de Vassouras


A velha estação

Mara Palace

Na janela

Lembranças coloridas

Visita

Altar

Presépio

A praça é do povo

A persistência da memória

Memória 1

Memória 2

Memória 3

A fazenda

Casa Grande e Senzala

Riqueza

Relíquias

Amizade

Bom papo

Pés-de-valsa

Santos Anjos no altar - a criançada do PIM