quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vitória e conquista


Sou de um tempo em que ainda se ouvia uma ou outra pessoa dizer: “ não gosto de política”, como coisa que não faz parte da vida, e não soava estranho.
A troca de um presidente pode não mudar muito a vida da maioria da população em países mais organizados e menos desiguais, mas no Brasil, embora os desastres naturais não sejam tão violentos como no hemisfério norte, estamos sempre à beira de um grande susto nos períodos de eleições.
Para mim, a alegria e confiança com que voto é inversamente proporcional aos desacertos que as eleições me trazem: eleição é época de perder ou se afastar de amigos. É época em que nem se pensa em fazer uma reunião familiar – isso é fato na minha família. Época de pisar em ovos. Triste, não? E será que faz sentido?
Lamento constatar que minhas origens e o meio em que circulo tem muito de preconceituoso, autoritário, elitista, egocêntrico e egoísta, embora seja capaz de se julgar justo o contrário. Não estou ligando nenhum nome a nenhuma pessoa, mas assim, olhando de longe, habito aquela tripinha azul dos mapas eleitorais, bem no litoral carioca, indicando o voto conservador... como é que eu poderia querer que minha vida fosse diferente?
Pois acho que poderia e deveria, se o país fosse outro. E ainda vou vê-lo diferente, mesmo que tenha que viver um século.
Tenho pessoas memoráveis na familia. Ninguém acha que não é, mas sempre ajuda fazer uma inspeção no próprio rabo. Não se costuma condenar por aqui o lema: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Farinha? Pirão? Nem faz parte do nosso vocabulário, não é mesmo?
Nasci aqui, mas nasci assim. Fui criada por um pai ovelha negra da família, que não pretendia fazer nenhuma revolução, mas fazia sem querer. Ele já se foi há 30 anos, mas essa semana ouvi, de um amigo dele, que ele foi o único médico socialista que conheceu. Ele se assustaria com o rótulo, não era politizado, tinha apenas senso de justiça e um coração desorganizado, mas muito bom. Minha mãe, católica fervorosa, nunca se envolveu diretamente com política, mas seguia ainda mais ao pé da letra seu generoso coração. Foi assim que eu me blindei, como se diz muito agora, contra qualquer outra influência externa. Não tenho nenhuma dificuldade em escolher candidatos, porque não voto achando que entendo o que eu não entendo: não entendo que o país não pode ter comida para todos, porque comer é muito bom, portanto quero que todos comam. Fiquei feliz de votar para isso.
Quero também que todos estudem – fiquei satisfeita com os avanços nessa área. Que comprem, construam ou reformem casas, o que eu estou fazendo, e acho bom. Vi várias pessoas ao meu redor comprarem casas, embora não liguem uma coisa à outra, mas nos oito anos do governo FHC(toc!toc!toc!), de triste memória, vivíamos aos sobressaltos e não sobrava dinheiro para nada. Justificativas e explicações complicadas mas capengas não me convencem.
Sempre que saio do país, constato com muito prazer que temos um presidente tão popular quanto Pelé, no mundo todo, e sempre no bom sentido. E ele não arriscaria essa fama - que não é pouca coisa - apostando em quem não conhecesse ou confiasse. Eu quero é ser feliz! E é impossível ser feliz sozinho, diz um dos meus guias da música popular. Neles eu acredito, como acredito que a voz do povo é a voz de Deus.
O problema é que popular não é palavra muito popular em todo lugar...
Desejo de coração que todos pensem com sinceridade na hora de votar, e com a própria cabeça, e não escolham o medo, nem a mentira, nem a fragilidade de denúncias duvidosas como bolinha de papel!
Vitória a qualquer preço? Não! Quem estipula o preço somos nós, nossa consciência, nosso coração. Sinceridade é coisa a ser respeitada. Quando ouço falarem em régua, e tenho ouvido isso em todos os debates políticos, prefiro pensar na régua e no compasso que a Bahia já nos deu. Axé para todos, e paz!

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