segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Orgulho, Conceito e Preconceito


Odeio esperteza. Não é preconceito. É conceito. Isso a gente pode ter, né? Deve. Mulheres espertas são a minha diferença. Os espertos também não são muito bem-vindos, mas acho que com eles, a gente acaba se distraindo com outras coisas e não repara tanto. Verdade é que esperteza e inteligência geralmente não caminham juntas. Quando existe inteligência, é ela que toma conta, a gente admira e sabe que o resto vem a reboque. Mas sem inteligência, a coisa se complica.
As só espertas não costumam ter uma idéia, se apropriam das alheias. E aí ficam repentinamente inteligentes. Quando as idéias são de um subordinado, ou menos graduado no trabalho, é mais do que esperteza, é desonestidade, infelizmente bastante frequente. Frequente também rejeitarem a maternidade da idéia quando ela é criticada ou não dá certo. Aí viram vítimas.
“Espertos, até os ratos são”, disse Francis Bacon, o filósofo. “Inteligência é compreensão”.
Não sei, mas nas mulheres, a esperteza parece mais canhestra. Será preconceito? Julgar é dispensável, mas saber avaliar qualidades pessoais é quase um talento. O primeiro mandamento para não errar é simples: não se pode ser vaidoso. Vaidade atrapalha tudo. Quem é vaidoso acaba valorizando as pessoas que alimentam o seu ego. Ou que se submetem, por esperteza.
Evitar comparações - costumam ser quase sempre descabidas e pouco lisonjeiras. Quem gosta de ser confundida, por exemplo, com alguém que passou a vida sendo arrogante e grosseira com os outros, quando não foi esse o nosso caminho?
As espertas sabem disfarçar. Sabem a quem dispensar tratamento privilegiado (aí, zero escrúpulo - também, uma palavra estranha como essa, acho que caiu mesmo em desuso).
Podem não ser as mais bem sucedidas, não enganam sempre ou para sempre. Mas conseguem mais do que suas parcas qualidades justificariam. Nenhum preconceito por parte delas para a propaganda enganosa, que costuma, aliás, ser seu mais utilizado recurso. Os homens, por mais perspicazes que sejam, são definitivamente desavisados sobre as mais dissimuladas e falsas – para nós – artimanhas femininas. Talvez por uma questão de foco, que nos homens é mais objetivo. As escolhas masculinas parecem mirar suas prioridades, deixando de lado os detalhes e as entrelinhas. A observação das sutilezas e a abrangência da visão feminina acabam fazendo a vida das mulheres (nem todas) muito mais dura.
Isso tudo é só fruto de observação. Não é reclamação. Trato com carinho os neurônios que Deus felizmente me deu, embora não saiba quantos são. E acho que acabei mais vítima do preconceito ao contrario. Sou de família totalmente submergente, mas tenho nome de rua - rua de má fama, é verdade, mas mesmo assim muito conhecida. As pessoas não sabem que tem mais quatro, ruas e sobrenomes, mas não daria para carregar todos. Isso eu não escolhi. Mas costuma causar alguma admiração. Eu mesma, só me orgulho do que herdei no meu dna e da educação que minha mãe me deu. E só. Já fui chamada de conservadora. Acho que não sou, mas não me importaria de ser. Acho que só não se pode, nesse país, ser conservador politicamente, e isso sei que não sou. O que consegui, que para mim é muito, foi com o meu trabalho e com meus neurônios. Não tenho nem solidão e nem vista pro mar (o que costuma amolecer corações), nunca fui amiga, nem cultivei, nenhum diretor, chefe, sultão, imperador ou celebridade. Talvez por orgulho, mas orgulho é um pecado menor, que geralmente vitima o orgulhoso, e é melhor do que vaidade excessiva, do que arrogância, má educação, falsidade, do que...esperteza.
(Espero não ter Cansado ninguém, que esse verbo foi condenado, e por justa causa)

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Wanda
Voltei e encontrei um texto tão interessante...
De espertos, espertinhos e espertalhões estamos rodeados.
Bom é que alguém, como tu, se insurja contra o culto que vai sendo prestado aos tipos, na condescendência e cegueira mental que tomam conta das pessoas.
bjs
Regina

vanda viveiros de castro disse...

Bem-vinda, Regina. Quando escrevi, achei que o texto podia parecer meio abstrato. como o blog é ao sabor do vento, fui em frente, mas parece que esses tipos são mesmo bem típicos da nossa paisagem ... falta de escola, falta de berço, falta de vergonha, falta de vontade de mudar, falta muita coisa nesse país, deve ser isso... um beijo! vanda

Selma Boiron disse...

+ um perfeito!