sábado, 30 de maio de 2009

Novos tempos


Estou mudada, e não é pouca mudança. Acostumada a ter opinião, e a expressá-la, de repente, do fundo da alma, resolvi guardá-las todas. Não que eu pretenda pensar diferente, mas ando mesmo empenhada em me desincumbir. E a ouvir. Como os japoneses, que quando balançam a cabeça e dizem "né", não estão concordando, estão apenas ouvindo. Aprendi que as pessoas ouvem cada vez mais apenas o que querem, e em vez de considerar a sua opinião divergente, tendem a procurar uma patologia onde possam te encaixar. E daí para a segregação, pode ser um passo. Na verdade, cada um ouve como pode e escolhe ouvir.
Hoje percebi que nem mais com o jornal me desentendo. E olha que eles não mudaram! O que acontece de sério e grave à minha volta não tem nenhuma graça, mas passei a achar graça neles quando leio. Zen. Mesmo nas manchetes difíceis para minha humilde compreensão.
Essa é uma das onze manchetes da primeira página, nenhuma delas positiva:
“Dólar fecha a R$1,97 e no ano perde 15%.” É perda ou é ganho?
Se vivemos em reais, não é bom que o dólar caia? Bom, eu não sou economista. Fui para a chamada do caderno feminino:
“Homens baixinhos e sequinhos viram moda e são novo objeto de desejo.” Achei engraçado pra caramba. Fui me informar melhor lá dentro: li que “o corpo masculino fica magro, mais seco e mais econômico, como exige a estética do futuro. O baixinho está na moda. Para os compactos, eles são a evolução da espécie: consomem pouco e não ocupam espaço.” Matéria de capa do caderno, e quase duas páginas! Será a vingança das gordinhas em marcha? Os de mais de um metro e setenta devem cortar um pedaço da canela ou os pulsos? A matéria não é humorística, é uma análise de novas tendências.
Se os homens usassem sutiã, acho que seria o caso de queimar agora. Se isso não é tratar homem como objeto, eu não sei ler. Gostaria que fosse para sempre, mas não sei por quanto tempo vou conseguir ser zen.

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