domingo, 19 de julho de 2009

Só coração


Desde que Freud desnudou nosso inconsciente, perdemos um pouquinho do direito de sermos infelizes. A imposição da felicidade aumentou. Devemos ser sinceros, abertos, transparentes, positivos, verdadeiros. Especialmente as mulheres, depois que conseguiram falar - um pouquinho - mais alto.
Ingênuas, bobas e românticas saíram para sempre de moda.
Nunca tinha olhado minha mãe como romântica, até que soube que, com mais de oitenta, ela ficou zangada porque um amigo, bem velhinho, morreu. Ele tinha prometido se casar com ela, uma sobrinha me contou. Ela era viúva há mais de vinte anos e nunca soube que tenha tido um namorado durante esse tempo. Era romântica, eu é que era distraída, achava que ela era sonhadora demais, e nada pragmática, e isso me incomodava. Ela me perdoará. Rejeito desequilíbrio, mas rejeitar sonho acho que é pecado. Tudo foi sempre muito misturado e antagônico na minha família. Inteligência em alto grau e zero em inteligência emocional. Descobri que prefiro assim do que um equilíbrio perfeito, sem brilho nem graça. Olho a inteligência emocional com a mesma desconfiança que olho para a tal da autoestima; apenas novos nomes para velhos sentimentos e situações conhecidas.
Hoje, vários livros nos alertam: “Quando termina é porque acabou”. Até filme nos avisa para ter os pés no chão: “Ele não está tão a fim de você”. Não vou ver.
“A melhor vingança é ser feliz”. E daí? Autoajuda ajuda com certeza a quem escreve, publica e vende, já o público alvo, não sabemos se são por eles ajudados, sabemos que procuram ajuda e às vezes não precisam, precisam e às vezes não procuram. E que vivemos tempos em que precisamos pedir desculpas pelo vexame se um dia cometermos a imperdoável inconveniência de nos apaixonarmos.

Um comentário:

Anônimo disse...

mas que bonito isso..... e tinha me escapado!!
felizes os que se apaixonam varias vezes na vida....tenho um pouo de inveja deles