quinta-feira, 22 de maio de 2008

Orientar-se no (seu pequeno) espaço



Quando se conhece o leste, dizem que a gente se orienta. A vida nos ensina a duvidar. A julgar por mim, nunca se vai ao Oriente sem tempestade.
As medidas no mundo são variáveis, não há padrão para elas, como não há medidas para sensações e sentimentos.
Será o mundo pequeno ou grande?
Viajar por uma companhia oriental parece trazer o Oriente mais cedo, nem que seja só pela graça do véu no chapéu das aeromoças.
Quando na tela do avião aparecem nomes que a gente nunca viu, mesmo já sendo gente grande, parece que o mundo é de fato muito grande. Mas quando ela mostrava a minha vizinhança, vi que a escolha dos nomes é um mistério, e desconfiei novamente das medidas do mundo. O Rio de Janeiro era cercado apenas por Japeri, Belford Roxo e Magé! Qual o gringo que conhece esses nomes?
Os aviões, desde as asas da Panair até uma pujante companhia que se anuncia como sinônimo do nome Pangea, pelos continentes que mantém unidos, fizeram o mundo ficar mesmo pequeno. Não por acaso produzi um programa sobre Santos Dumont, pioneiro da invenção que mais me encanta. Não dá para acreditar que em menos de 48 horas você está lá na pontinha do norte do Japão.
Mas na recepção de um hotel do interior da ilha mais ao norte do Japão, eu encontrei um sorridente coreano, o único que arranhava o inglês, que me disse que foi à Bahia, e perguntou: como é mesmo o nome daquele lugar lindo no interior do estado? Eu respondi logo: Chapada Diamantina. Era lá! Ele foi e gostou muito, onde eu lamento não ter ido ainda, mesmo estando tão perto. Perto e longe também varia. É longe, se a gente não chega lá.
Em Tóquio, uma das maiores cidades do mundo, por um desses acasos que alguns chamam de sincronicidade, me encontrei no mesmo hotel em que me hospedei há sete anos, naquela vez a convite do governo japonês. Dessa vez escolhido por um representante nosso de forma completamente aleatória. Eu não lembrava do nome do hotel, nem do bairro, mal reconheci quando cheguei lá. O critério da escolha, me disseram, diante do meu espanto, foi apenas o de apartamentos disponíveis para não fumantes, e fomos bater justo lá. Reformado, estava quase irreconhecível, mas me vi andando pela mesma redondeza que conheci, arrastada por um tufão, comendo num pé-sujo em que comi, porque Tóquio tem a Takashimaya, para nosso deleite, mas também tem pé-sujo, também para nosso deleite, já que estava bem melhorado.
Não sabemos mesmo quanto tempo duramos e para onde a vida nos leva. O Japão esteve no meu caminho duas vezes, nas duas vezes me ofereci para ceder a vez a outra pessoa da equipe, não que eu não quisesse ir, queria muito, mas por força das circunstâncias, e a chance voltou para mim. Gostei mesmo do Japão. Fica longe, mas estava no meu caminho. O mundo nos acolhe nos lugares que são nossos. E quando são mesmo nossos, levamos eles para sempre, não importa o tamanho, não importa a distância. É só uma questão de estar orientado. Um 777-200 é um mundo, precisa muita competência para pilotar. Dentro da gente, o piloto somos nós mesmos, e aí os rumos, as escolhas, assim como as consequências, envolvem cálculos muito menos exatos.