quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O melhor poema de todos os tempos


Esse me chegou com os bons votos de ano novo (estou eu aqui confirmando a lenda de que o ano carioca só começa quando o carnaval termina...)
Não foi a primeira vez que vi circular pela internet,
mas dessa vez me deu vontade de copiar aqui, depois de traduzir livremente:

Uma mulher deve ter:
Dinheiro suficiente, sob seu controle, para poder se mudar
e alugar um lugar só seu, mesmo que ela nunca precise ou queira.
Alguma coisa perfeita para vestir se o empregador,
ou a pessoa dos seus sonhos quiser vê-la dentro de uma hora
Uma juventude que fique satisfeita de deixar para trás,
Um passado saboroso o suficiente para esperar com prazer
a hora de contar na sua velhice.
Um jogo de chaves de parafuso, uma furadeira sem fio e
um sutiâ de renda preta
Uma amizade que sempre a faça rir...e uma com quem pode chorar
Um bom móvel que não pertenceu a ninguém da família
Oito conjuntos de pratos, cálices de vinho e a receita para uma refeição que fará seus convidados se sentirem honrados
Uma sensação de controle sobre o seu destino
Toda mulher deve saber
Como se apaixonar sem perder a si mesma.
Como deixar um emprego,
romper com o amante,
confrontar um amigo sem arruinar a amizade
Deve saber:
A hora de tentar com mais garra
e a hora de se retirar.
Deve saber que ela não pode mudar
O comprimento da sua perna,
O tamanho do seu quadril
Ou a natureza de seus pais
Deve saber que sua infância
Pode não ter sido perfeita... mas é passado.
O que ela deve e o que ela não deve fazer por amor
Ou mais ainda,
Como viver sozinha, mesmo que não goste.
Em quem ela pode confiar, em quem ela não pode
E porque ela não deve tomar isso pessoalmente.
Aonde ir,
Seja isso a mesa da cozinha de sua melhor amiga
Ou um charmoso chalé na montanha
quando sua alma precisa ser afagada
Precisa saber
O que pode e o que não pode conseguir
em um dia,
um mês,
um ano...

Mande para seis mulheres e terá muita sorte o ano todo
Ou no mínimo saberá
Que você é realmente amada pela amiga que te mandou isso
E que ela só deseja o melhor para você
e para a sua vida, e lembre:
bons amigos são como estrelas,
você nem sempre vê, mas sabe que estão lá!
Seja você mesma - e os outros já estarão garantidos.

"The best poem ever..." me foi enviado por uma querida amiga como sendo de Maya Angelou. Li que ele corre mundo desde 2007, quando foi publicado no blog da verdadeira autora, Pamela Satran.
Seja de quem for, o título não é nada modesto, mas acho que ela deve acreditar, como acredito, que os homens também poderiam fazer bom uso do que sugere ou deseja aqui. Só se dirige às mulheres porque costumam ser mais descuidadas com as coisas essenciais...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Brasíndia


A Índia está em nós desde a primeira aula de História do Brasil, desde as túnicas da adolescência, as viagens dos Beatles, seus panos e seus gurus sempre nos fizeram sonhar. Para ser honesta, minha admiração só passou disso quando comecei a pesquisar o país que iria visitar profissionalmente, e vi que o guia da Índia que eu tinha nas mãos era muito mais grosso do que o da China, e o do Japão, que eu tinha lido antes.
Gostar mesmo, eu gostava era da comida indiana que provei muitas vezes fora da Índia.
É impossível não reverenciar a cultura indiana, mas passei a olhar com desconfiança e a questionar muito a manutenção cega dessa cultura que os indianos tanto enaltecem, geralmente com um olho nos negócios, não seria injusto afirmar.
No meu primeiro contato, descobri a porção de Índia que temos no Brasil, mais precisamente, em Minas Gerais. Eram fortes os laços amarrados por Portugal, que dominou Goa até 1962.
Ouvi mais do que pude comprovar: teriam vindo de Goa todos os governadores gerais a que o estado de Minas foi subordinado. A mãe do Aleijadinho não seria uma escrava africana, seria na verdade, indiana. No período do Brasil colônia, só não vieram mais indianos para cá porque as mercadorias que vinham de lá tinham prioridade nos navios, valiam mais do que um punhado de escravos. Mesmo assim, vieram – e continuam vindo – muitos indianos para ficar ou negociar por aqui.
O comércio de ouro e pedras preciosas, declarado ou não, oficial ou oficioso, até hoje mantem essa união. Minas sempre teve ouro e pedras, os indianos sempre adoraram jóias. Existem joalheiros em Jaipur, na Índia, que ainda mantem esse comércio, atravessando gerações há séculos, desde os tempos do Império.
Ainda hoje a Índia é o país das compras, e com isso continua a atrair a atenção do mundo todo. Não só especiarias, mas outras maravilhas, lindezas e delicadezas a preços muito baixos. Já garantia não se encontra com tanta abundância, meu colar era de vidro e se quebrou, minha pulseira era pintada e desbotou. Não importa, durando ou não, tudo é lindo e é um presente para os olhos. O artesanato se mantém pela obrigação de se seguir a profissão do pai, a organização dos ofícios distribuídos entre as diferentes castas acabou preservando muita coisa que, fora da Índia, só em algum lugar do passado. Grande parte da Índia é, ainda, o passado. As levas de colonizadores parecem ter deixado esse karma por lá. E talvez não haja no mundo país mais avesso a mudanças do que a Índia.
Muitas civilizações antigas como o Egito, vivem em grande parte por conta de seu passado. Mas a Índia parece viver ainda no passado, e deve interessar à sua classe dominante que as cosisas se mantenham assim. Sob o olhar da justiça social, a Índia já não parece tão misteriosa. Todas as crenças parecem ter um fundo econômico por trás, que não ajuda nem um pouco os menos favorecidos. Se todos os animais são sagrados, não se come nenhum deles – bem, a população hindu não come. Se o mar era olhado com desconfiança, o sal e os peixes estavam a salvo dos hindus e à disposição do colonizador ou estrangeiro que não praticasse essa fé. O ponto de vista econômico não parece ser o mais humano nem o mais charmoso para se olhar pessoas e credos, mas à luz da economia as injustiças ficam mais claras, não se escondem atrás dos panos – que por mais bonitos e preciosos que sejam, servem para distrair nossa atenção de uma realidade assustadora. Os excluídos, os sem castas, são cerca de 170 milhões, quase a população brasileira, e significam 16% dos habitantes da Índia, quando os de castas mais altas somam apenas 8%. A maior parte da população está nas castas intermediárias, o que não quer dizer que vivam bem.
O boom econômico promoveu um princípio de mudança, criando muitas oportunidades de trabalho nas cidades grandes, significando um pouco de mobilidade no duro sistema de castas. O outro lado da moeda é a intolerância que isso provocou. Os dalits, ou oprimidos, quando voltam para suas cidades demonstrando alguma prosperidade, cotumam ser violentamente atacados. Os de castas mais altas esperam a mesma subserviência de sempre. Casamentos entre castas começaram a acontecer, mas ainda provocam reações fortíssimas e muitas vezes trágicas. É um sistema tão arraigado na cultura indiana que Gandhi, que tanto lutou pela liberdade na Índia, não lutou contra as castas, ele lutou a favor dos oprimidos mas aceitou manter esse sistema.
Forte preconceito aliado a grandes interesses econômicos, parece que já vimos esse filme em algum lugar...

Continuo gostando muito de comida indiana...especialmente fora da Índia.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Bloco da Maria - Crônica da Folia

Comissão de frente

Negócios de última hora

À espera do bloco

Decorando a festa

Orelhão folião

Lá vem ele

A turma da pesada

A turma da pesada - 2

Começando cedo

Princesas na passarela



Em guarda

Trio folião
Noiva resgatada

Já que é carnaval...

Dispersão

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Moonglow


Comecei a escrever decidida a organizar as idéias, e meti na cabeça que só conseguiria botar as coisas no lugar quando arrumasse a casa. Felizes dos que conseguem funcionar no caos, abstrair é um dom que eu não tenho.
Arrumações demandam tempo e persistência, e às vezes é preciso mais fôlego e coragem para abrir e esvaziar uma gaveta do que para cruzar um rio amazônico à noite num barco sem lanterna.
Ufa. Era mais ou menos o meu caso. Hoje, guardo uma lanterna na gaveta.
Sigo sem atropelos, sem rumo certo, e sem ver o fim do túnel, mas sigo.
Guardo datas, vou marcar meus progressos em luas – celebrando a primeira lua cheia do ano novo chinês, festa no Oriente, e bonita de chamar atenção, de tanto que anda iluminando as noites por aqui. A cada lua cheia, espero ter feito algum.
O armário de receitas tento agora reduzir, como se apura um caldo ou se reduz um vinho no molho. A moda muda até nos pratos, o nível aceitavel de colesterol baixou, a ciência e o paladar vão me ajudando na triagem. Já não sei por que guardei tudo isso, se uma boa fatia de pão integral e uma lata de sardinhas para mim é um banquete.
Adolescente, quando adultos davam palpites sobre o meu futuro, eu reagia pensando: quero uma casa pequena, em cima de uma pizzaria, perto de uma padaria. E só.
Consegui bem mais do que minhas pueris pretensões, gacias a la vida, e lamento ter que dispensar a pizza por ter outras prioridades no momento.
Com o tempo, passei a colar e anotar em cadernos as receitas “definitivas”. Essa é uma delas. Vale sozinha uma refeição, fresca e saudável, só poderia mesmo ser o carro-chefe de Nice, cidade tão boa quanto sua famosa salada.

Salada Niçoise

Molho Vinagrete:
3 dentes de alho, bem amassados
¼ xícara de vinagre de vinho tinto
Sal - e pimenta, se quiser (eu evito pimenta do reino)
½ xícara de azeite extra virgem

Bata tudo junto, deixando para juntar o azeite no final, bata mais e reserve.

Salada:
500 gr de atum – fresco ou, se enlatado, compre o sólido, em água
2 colheres de sopa de azeite
Sal
350 gramas de batatinhas novas, de preferência, as de casca vermelha
350 de vagens - aparadas, sem os fios, melhor usar a tipo macarrão
1 pé de alface - romana ou americana, ou mesmo chicória, em pedaços
1 cebola roxa bem pequena, fatiada bem fina
½ pimentão vermelho, fatiado bem fino
2 ovos cozidos e fatiados
4 tomates pequenos, cortados em 4 ou 8 pedaços, ao comprido
½ xícara de azeitonas pretas pequenas
Um punhado de temperos verdes, ou cheiros, pode ser salsinha e cebolinha-francesa (ciboullette)

Deixe o atum no azeite e no sal enquanto prepara a salada.
Ferva as batatinhas em água e sal, até cozinhar (veja se estão macias espetando um garfo). Escorra e esfrie. Ferva as vagens, escorra em água fria e deixe esfriar. Corte a batata em rodelas e as vagens no tamanho de uma garfada (corte enviesado). Misture com um quarto da vinagrete.
Arrume a salada numa saladeira – de preferência, de vidro, na ordem:
folhas, batatas, vagem, cebola, pimentão, tomates, atum, azeitonas e temperos verdes.
Regue com o molho restante, misture um pouco e sirva logo.

***

De quebra, já que é dia de São Valentim, festejado pelos namorados do lado de cima do mundo, a letra da música de uma das cenas mais românticas do cinema, do filme Picnic (Joshua Logan, 1955).

Moonglow

Will Hudson / Edgar DeLange / Irving Mills

It must have been moonglow, way up in the blue
It must have been moonglow that led me straight to you
I still hear you sayin', "Dear one, hold me fast"
And I keep on prayin', "Oh Lord, please let this last"

We seemed to float right through the air
Heavenly songs seemed to come from everywhere

And now when there's moonglow, way up in the blue
I'll always remember, that moonglow gave me you

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fevereiro


Os nativos estão inquietos. Baticuns vem de todos os cantos da cidade, é o som do verão no Rio. Blocos de rua (re)surgiram e se multiplicaram, e no rastro da Banda de Ipanema vieram com nomes que não negam o espírito do chão que pisam: Simpatia é quase Amor, Bloco de Segunda (que sai da Cobal de Botafogo), Suvaco do Cristo (sai debaixo do próprio), Imprensa que eu Gamo, Spanta Nenén, Nem Muda nem sai de cima, Carmelitas, Rola Preguiçosa, Vem ni mim que eu sou Facinha, Azeitona sem Caroço, Empurra que pega, e por aí vai, ou vão.
Carioca é casa de branco em tupi-guarani, mas como bem disse Luiz Carlos da Vila,
“O samba corre
Nas veias dessa pátria - mãe gentil
É preciso altitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil.“

É possível não gostar, mas não é possível negar: o samba é pura alegria, que herdamos e acolhemos de quem não chegou aqui acolhido de braços abertos. Generosa herança, festa verdadeira, que aqui está no dna, não pode ser atestado apenas por um sambódromo (com o perdão da má palavra). E como nada é perfeito, serve também para provar que a maldade dessa gente que consegue manipular, corromper e explorar até a alegria do povo é uma arte. A sombria mistura com coisas nada alegres traz sempre um conflito com a tentadora Avenida.
De simplicidade e qualidade, outro Rosa, o Noel, sabia tudo:

"Essa gente, hoje em dia, que tem a mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês.
Tudo aquilo que o malandor pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português."

Tentação existe para que se caia nela, folião merece sempre perdão, mas viva os blocos – de preferência, antes da fama, antes de superlotarem - e viva o samba, tocado por uma bateria, por um grupo de sambistas, ou batucado em uma caixa de fósforo.

"Sambista Perfeito
Arlindo Cruz

O sambista perfeito devia nascer com a luz de Candeia
Que animava o terreiro em noite de chuva ou de lua cheia
E ainda ser valente sem dar bofetão, cabeçada ou rasteira
Mas brigar pela arte, a parte melhor de Geraldo Pereira

Elegante do jeito Paulinho
Cativante do jeito Martinho
Ser malandro e contagiante do jeito Zeca Pagodinho

Orfeu intuitivo, senhor e cativo nas artes do amor
A vida aventureira e no bolso a carteira de trabalhador
Um lenço muito bem perfumado
O sapato de cromo engraxado
O sambista completo devia ser neto dos antigos bambas

Mente aberta no corpo fechado
Contra plágio, pedágio e muamba
O sambista perfeito devia ser feito à imagem do samba"

***

Valeu, Zumbi!