sábado, 24 de outubro de 2009

Vanguarda


20/10/2009
Mulher do futuro será menor, mais gordinha e mais fértil, diz estudo
da New Scientist
As mulheres do futuro serão levemente mais baixas e rechonchudas, terão corações saudáveis e um tempo reprodutivo mais extenso. Estas mudanças são previstas a partir de extensas provas para documentar que o processo evolutivo ainda atua sobre os humanos.

Sempre achei que estava à frente do meu tempo. Pelo menos em parte, já sou uma mulher do Século 25.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Também é cultura











Paredes do subway, em NY. Muitas foram restauradas, conservando o desenho tradicional que identifica as estações. Outras ganharam cara nova, retratando cenas da cidade, os habitantes que circulam por ali, profissionais, passantes, suas artes, seus tipos mais comuns e frequentes estão ali representados. Nova York está no primeiro mundo, não é ascendente nem candidata a nada. A cidade pode ser dura, mas a cultura - talvez mais na teoria que na prática, mas é um bom princípio, e mesmo que para consumo interno, o que eu gostaria de ver por aqui - não é a da simulação ou exclusão. Pelo menos nas paredes do metrô, não finge que é chique.
E fica assim muito mais chique.

domingo, 4 de outubro de 2009

Pegadas

Andei lidando nas últimas semanas com uma modesta herança mais concreta que a genética, e igualmente trabalhosa, um pequeno apartamento onde passei um curto - mas cheio de lembranças - período na infância, transição entre a casa da minha avó paterna, no Posto Seis, e a mudança para Itaipava.
A casa de Copacabana, onde morei até os cinco anos, que ficava a duas quadras da praia do Arpoador, tinha dois andares, quintal, cachorros, papagaio e ainda galinhas que meu pai, embora médico, insistia em tentar criar. Para horror da vizinhança e de toda a família, posso imaginar.

Esse apartamento da Rua dos Oitis, na Gávea, fica num predinho onde um dia foi a casa da avó materna. Avó abençoada, deixou ali sua boa energia.
Em Itaipava, ganhei o presente de poder explorar o mundo numa pequena bicicleta, sem medo ou vigilância, mas a primeira lembrança eram os canteiros das casas simples da vizinhança, como era a nossa, cheios de plantas mituradas sem muita ordem. Além do gosto pela liberdade, vem daí o gosto pelas pitangueiras, árvore bonitinha que só.
Volto à Rua dos Oitis, e ao apartamento que é quase um karma. Fazia quinze anos que não entrava lá, precisava ser novamente alugado, não é só meu, mas a incumbência de cuidar dele é, há décadas, já que sou a única a morar por aqui.
Consertar o que se estragou é sempre mais difícil do que começar do novo, mas é preciso, e em vez de chorar as pitangas, entre pedreiros e bombeiros, a surpresa de encontrar pelo caminho um pouco da infância pela janela: uma nesga da antiga vista dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Gávea, que eu lembrava de ver quando era pequena.

Sendo felicidade um luxo que nem sempre se pode ter, aprendi a sair atrás das sensações agradáveis. A caminhada pelo Jardim Botânico ali ao lado, a tapioca na feira de sexta-feira, bem em frente ao Braseiro da Gávea. A pracinha onde eu brinquei acabou sendo a mesma onde minha filha tomava os primeiros banhos de sol, depois de tantas mudanças, não por escolha mas por puro acaso.
A Rua das Acácias, na outra esquina, é cheia de oitis. Já a Rua dos Oitis, é cheia de acácias. E na rua ao lado... pitangueiras.
Um pote de mel comprado no mercado próximo trazia de brinde uma promessa: um vasinho de fibra de côco e duas sementes de... pitanga! Serão mais duas pitangueiras no jardim provisório da minha janela, à espera de uma varanda, ao lado de muitas pimenteiras zelando pelo sucesso dos sonhos. E pelas minhas contas, em seis anos já tenho um outro programa diferente para fazer: geléia de pitangas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Degenerar


Li Leite Derramado, do Chico Buarque, num susto só, de ver que não existe ali nada que não me seja familiar, de entreouvir ou conhecer de perto mesmo.
Se alguma coisa ali soar falso, alguma tinta parecer carregada, deve ser menos por licença poética e mais porque quanto mais nobres se acham as famílias, menor a disposição de revelar seus intestinos, e a verdade acaba meio dissimulada. Quem lida com o poder costuma ficar mais à vontade para escolher a sua verdade, ou para não dar a mínima para ela.
O sentimento com a minha herança genética foi sempre uma mistura estranha de orgulho (justificado, em alguns casos), de tristeza, e de conflito, em proporções que não sei precisar.
Família é sempre família, a palavra já vem com sua dose de carinho, existem piores, existem melhores, certamente pior é não tê-la, e existe também até hoje a determinação de me libertar do que não me pertence por escolha, nesse legado sempre acidental.
Graças ao desvio de rota que meus pais tomaram, não seguindo o curso que podia se esperar que traçassem, parece que fui salva. Não confesso que vivi, sinto mais é que sobrevivi, mas não reclamo nem um pouco da conta. Sucesso e fracasso tem sempre facetas que oscilam entre o bem e o mal.
O descompasso com boa parte da família, provocado pelas diferenças que meus pais criaram, mais por atabalhoamento do que por escolha, mais por não saber lidar com o que no fundo não gostavam, do que propriamente por rebeldia, acabaram por me aguçar os sentidos para reconhecer onde existia menos pose e mais afeto.
Aceito bem a teoria de que “sem trauma não se cria”. E lembrando de Luiz XV, acho que depois do dilúvio é que há vida.

Andou há tempos circulando na internet, atribuído a Clarice Lispector, um texto que afirmava que a salvação é pelo risco. O texto não é dela, e a salvação não é pelo risco, a salvação é pelo trabalho, eu penso. Trabalho, talento e arte, isso sim merece tratamento nobre, e é o que melhora a raça.
Da mesma forma que acho que a função do mundo virtual é nos conectar melhor com o real, é o trabalho que dá ao lucro dimensões mais humanas, e dá sentido ao proveito e ao lazer.