segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fevereiro


Os nativos estão inquietos. Baticuns vem de todos os cantos da cidade, é o som do verão no Rio. Blocos de rua (re)surgiram e se multiplicaram, e no rastro da Banda de Ipanema vieram com nomes que não negam o espírito do chão que pisam: Simpatia é quase Amor, Bloco de Segunda (que sai da Cobal de Botafogo), Suvaco do Cristo (sai debaixo do próprio), Imprensa que eu Gamo, Spanta Nenén, Nem Muda nem sai de cima, Carmelitas, Rola Preguiçosa, Vem ni mim que eu sou Facinha, Azeitona sem Caroço, Empurra que pega, e por aí vai, ou vão.
Carioca é casa de branco em tupi-guarani, mas como bem disse Luiz Carlos da Vila,
“O samba corre
Nas veias dessa pátria - mãe gentil
É preciso altitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil.“

É possível não gostar, mas não é possível negar: o samba é pura alegria, que herdamos e acolhemos de quem não chegou aqui acolhido de braços abertos. Generosa herança, festa verdadeira, que aqui está no dna, não pode ser atestado apenas por um sambódromo (com o perdão da má palavra). E como nada é perfeito, serve também para provar que a maldade dessa gente que consegue manipular, corromper e explorar até a alegria do povo é uma arte. A sombria mistura com coisas nada alegres traz sempre um conflito com a tentadora Avenida.
De simplicidade e qualidade, outro Rosa, o Noel, sabia tudo:

"Essa gente, hoje em dia, que tem a mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês.
Tudo aquilo que o malandor pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português."

Tentação existe para que se caia nela, folião merece sempre perdão, mas viva os blocos – de preferência, antes da fama, antes de superlotarem - e viva o samba, tocado por uma bateria, por um grupo de sambistas, ou batucado em uma caixa de fósforo.

"Sambista Perfeito
Arlindo Cruz

O sambista perfeito devia nascer com a luz de Candeia
Que animava o terreiro em noite de chuva ou de lua cheia
E ainda ser valente sem dar bofetão, cabeçada ou rasteira
Mas brigar pela arte, a parte melhor de Geraldo Pereira

Elegante do jeito Paulinho
Cativante do jeito Martinho
Ser malandro e contagiante do jeito Zeca Pagodinho

Orfeu intuitivo, senhor e cativo nas artes do amor
A vida aventureira e no bolso a carteira de trabalhador
Um lenço muito bem perfumado
O sapato de cromo engraxado
O sambista completo devia ser neto dos antigos bambas

Mente aberta no corpo fechado
Contra plágio, pedágio e muamba
O sambista perfeito devia ser feito à imagem do samba"

***

Valeu, Zumbi!

Um comentário:

isabella saes disse...

Quem não gosta de samba, bom sujeito não é... Adoro! Porém, longe dos blocos que desfilam pelo Rio e, de preferência, em épocas distantes do Carnaval. Mas, o melhor que li esses dias foi: bloco "Filhos de Bambi", liderado por Mahatma Bambi e Barak Obambi. Esse é imperdível! Sai na Bambina, claro, segunda de Carnaval. De São Paulo (uma ex-foliã, que não curte mais Carnaval, vai para SP nesta época), acompanharei a repercussão... Beijos.