quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma mulher e uma obra



Ah, como é bom não acordar esbaforida às 7 da manhã para entregar a chave para algum pintor, pedreiro, marceneiro ou serralheiro. Não importa se você tem um arquiteto – tive dois, projetista e finalizador, mas no fim das contas, você percebe que além de pagar as contas, trabalha mais do que todo mundo na obra. E vai entrando num mundo que não suspeitava existir: além de enriquecer o vocabulário – sanefa, cremone, palmela - descobre até gente louca por obra, até que se percebe que são é loucos mesmo. Só pode ser. Tudo bem gostar de ver as coisas irem ficando bonitinhas, mas viver cercada de marmanjos dizendo educadamente: -“Bom dia, D.Vanda”, e me olhando com aquela cara de superioridade e pena! Um dia entrei na obra e tinha doze deles. Outro dia cheguei e me espantei de ver todos os splits ligados (e com as janelas abertas). Perguntei como tinham ligado, se os controles estavam comigo. Um simplesmente me olhou de cima do seu metro e oitenta, espichou o braço, e mostrou como era fácil alcançar. Mulher, baixinha e sem entender de obra, só me restava mesmo sofrer calada, porque a cada coisa que reclama que não está como deveria, é porque você não entende de obra. Foi assim desde o dia em que eu disse para um marceneiro: eu não entendo disso, quem tem que entender, e resolver, é você! Pronto. Passei a ser a tonta senhora que não entende de obra, e por isso não compreendia as más soluções que me apresentavam. Não sou técnica em nada, mas mulher e mais velha que todos ali, sei o que não funciona numa casa, e isso deve ser respeitado, mas a obra é uma corrida insana de obstáculos, e o que revolta é que não haveria necessidade. Se tivessem tido escola, ou uma escola um pouco melhor, se só se comprometessem a fazer o que dão conta e não todo trabalho que aparece se... Bem, dizem que um dia acaba, e é nessa esperança que você se agarra e consegue forças para suportar os sobressaltos de cada dia. Mas antes de acabar, ela acaba com a sua paciência, o seu orçamento, a sua coluna, o seu labirinto, em suma, acaba com você. O que é estranho é que você conversa com todo mundo que faz ou fez obra, nos mais variados esquemas, maiores ou menores, com maior ou menor infraestrutura, e os relatos são iguais, obra é igual à mãe, só muda o endereço! Dizem que o que resta de você até esquece o que passou. E eu sei, muita gente sonharia com isso, estou chorando de barriga cheia, até porque sobrevivi. Sobrevivi, mas ainda não esqueci. Acho que a pessoa mais desejável numa obra é o chaveiro, que coloca as fechaduras definitivas, com todo mundo do lado de fora. Tem sempre uma pequena pendência, descoberta a cada dia que passa, a te lembrar do pesadelo. Mas já dá para ver que há vida fora do caos. Lá no fundo, lamento o know-how desperdiçado, mas não me meto noutra.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Blá, blá, blá, blog, blog, blog



Uma amiga construiu uma casa na serra. Assustada com o buraco do ozônio, quis se proteger do derretimento das calotas polares.
Estava no paraíso, mas não levou um ano para desistir de morar ali. Questionada, respondeu: “O elemento humano lá é fraco”.
Lembro sempre dessa minha amiga quando entro no Facebook.
Sou blogueira há muitos anos, mas no Facebook entrei desconfiada. Cheguei a sair, mas voltei. Gosto muito do meu canto, mas sou voltada pro mundo, sossego não é isolamento. Queria acompanhar pessoas queridas que não tenho próximas, queria me comunicar. Muito menos que fuxicar ou colecionar “amigos”. Frugal, prefiro as notícias que me dão, e que gosto de dar. Procurar, só mesmo por profissão.
Queria partilhar o que tenho na cabeça e nas gavetas, para que não fique fechado por cá. Por isso resolvi espanar a poeira do meu blog, que só me dá alegrias. Outro dia li que blog é coisa do passado. Deve ser, porque eu também sou. Só sei que não me dei tão bem com o mundo sucinto. Minha curta exeriência no Twitter não vingou. Sei que são canais muito bons para divulgar, espalhar, arregimentar, sejam ideias ou produtos, isso nem se discute. Continuo no Face, mas tempo é coisa danada, difícil de ter para gastar e péssimo para conservar as coisas como são, à medida em que passa...
O tempo que se perde sem nem se dar conta, informações que você preferia não ter, as frases, as frases, ai,as frases! Parece que o FB nasceu para frases, se alimenta de frases, se Clarice fosse viva, teria que ser apresentada à maioria que ela assina por ali, e dá-lhe Veríssimo, Borges ou qualquer outro nome que dê peso e importância ao que quer que se escreva. Muitos tiveram a sorte de morrer antes, sendo assim poupados do desgosto de ver até que ponto chega a cara de pau alheia – para deixar barato. As frases substituíram os ditados e provérbios, mas esses, os que o tempo preservou, sobreviveram pela sabedoria que contêm, e essas frases, fresquinhas, que a gente vê todo dia, ainda não passaram pelo justo destino que um dia a maioria terá: o esquecimento.

Já ouvimos que o gibi ameaçava a boa literatura, a televisão seria o túmulo do cinema, o computador acabará com os livros de papel, e vemos que o que não acaba nunca são as profecias, mesmo que os profetas sejam falsos...
Amigos que gostam do meu blog não me poupam de cobranças e sugestões.
Cobram foco, objetividade, querem sucesso! Que não me entendam mal, eu não reclamaria se assim fosse, mas não foi o que eu mirei aqui.
Escrever pede dedicação, escrever bem demanda dedicação e talento.
É preciso pensar para escrever. Quando a gente escreve, passa a limpo o pensamento, e se aprimora. Vale o tempo que cobra.
Já as frases... as que batem com nossos sentimentos, ficarão. Gostei especialmente da "freudiana" ali de cima *. Respeito muito a diversidade e a liberdade de escolha e expressão, mas exercer nosso senso crítico não é apenas um direito, é um exercício muito aconselhável.

(*Antes de se diagnosticar com depressão e baixa auto-estima, esteja certo de que você não está, na verdade, cercado por idiotas).