sábado, 3 de janeiro de 2009
2009, Kharma, dharma, Krishna, Shiva
Nas minhas primeiras viagens – como em quase todas as outras – visitei países mais desenvolvidos e ricos do que o meu. Mas meu primeiro choque se deu no Egito. O segundo, na Índia, onde me vi pensando nas calçadas do Brasil, nas ruas varridas, no trânsito do Rio, nos mercados razoavelmente limpos. Isso mesmo, nas coisas que criticamos aqui, porque não são como no primeiro mundo. E porque aqui existem também grandes desigualdades, o que não é aceitável, convivemos com muita ignorância e egoísmo, e os avanços são lentos. Alguns fecham os olhos, e a gente sabe os motivos - estão sempre no bolso. Maior ainda que o preconceito, a razão da reação contra mudanças acabam ou começam sempre na preocupação com o bolso.
Mas existe por aqui um padrão, que se tenta alcançar, e as coisas acabam avançando à força, à custa da luta de muitos, porque limpeza não é frescura, saúde não é frescura, educação não é luxo, nem estética é futilidade, já que alimenta o espírito. E as desigualdades não são leis de Deus, foram demarcadas pelos homens mesmo - sempre pela força de quem tinha em mãos o tacape. A luta pelo poder também se dá entre homens e mulheres, mesmo entre pessoas que se amam.
O Brasil deixou de ficar em total desvantagem como eu o via, embora tão longe do ideal. Não estamos acostumados a valorizar o que temos. Queremos mais, e não estamos errados por isso. Mas é preciso razão, sinceridade e honestidade também na visão crítica, se a idéia é ser justo, e as medidas carecem sempre de comparações.
Gosto demais de viajar, já quis imigrar, já invejei quem leva uma vida mais solta na estrada. Ainda não me agrada a idéia de ficar quieta, mas ando mais apaziguada.
Sobre a Índia, tive muita dificuldade de entender um país tão cheio de divindades e santidades, e tão brutalmente desigual. Uma coisa não seria consequência da outra? Uma Madre Tereza de Calcutá não existiria sem Calcutá. Seria melhor que ela existisse, ou não, e não existisse Calcutá?
Perdi muito tempo procurando explicações na vida. Agora prefiro ocupações. Consigo com elas um resultado mais satisfatório. Quando o momento não é de grande júbilo, adoto medidas pequenas. Um centímetro pode não ser muito, mas pode ser um avanço, e um alento, se não uma comemoração. Digo isso em todos os sentidos e direções. Não jogar a sorte pelo chão. Bendigo a minha, o que é diferente de ser conformada. O Rio me faz feliz, o samba me faz feliz. Pequenas felicidades, assim como amigos, é bom nunca perder de vista. O sol - na sombra! - o mar, a mata que cerca a cidade. Saber reconhecer e avaliar bem o que se tem é uma espécie de humildade, e de felicidade. Podemos não ter na vida todos os encontros que planejamos ou desejamos, mas se vivemos em compasso com o nosso sentimento, a vida não fica tão fora de lugar. As medidas são pessoais, mas esse é o limite que dei à velha onipotência. Por enquanto, pelo menos. E por enquanto, ouço Luiz Carlos da Vila, e penso em luz. Luz para todos, em 2009. Luz que acolhe, não a que vemos explodir em Gaza, ou Mumbai, onde eu li numa esquina: você pode viver por um ideal, e até morrer por um ideal, mas não mate por um ideal. Contra as bombas do mal, nenhuma indignação é excessiva. Cada um tem sua medida, e eu penso: até tentar pensar melhor melhora um pouco o mundo. E como exercício, é bom começar tentando melhorar a vizinhança, sem perder a esperança. Feliz 2009!
O sonho não acabou
( Luis Carlos da Vila)
A chama não se apagou
Nem se apagará
És luz de eterno fulgor
Candeia
O tempo que o samba viver
O sonho não vai acabar
E ninguém irá esquecer
Candeia
Todo tempo que o céu
Abrigar o encanto de uma lua cheia
E o pescador afirmar
Que ouviu o cantar da sereia
E as fortes ondas do mar
Sorrindo brincar com a areia
A chama não vai se apagar
Candeia
Onde houver uma crença
Uma gota de fé
Uma roda, uma aldeia
Um sorriso, um olhar
Que é um poema de fé
Sangue a correr nas veias
Um cantar à vontade
Outras coisas que a liberdade semeia
O sonho não vai acabar , Candeia
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3 comentários:
Siga sonhando, relatando-nos suas quimeras, seus anseios e desejos, cara blogueira que, daqui, te sigo. Também buscando algo o que fazer, como começar, te sigo. Abraço e um 2009 iluminado para tds nós :)
E eu sou a terceira desse trenzinho de Carnaval! Vamos para o alto e avante, como diz nosso amigo dos quadrinhos, e que sejamos sempre fiéis aos nossos desejos! Amém!
Só posso agradecer e dizer Amém para as duas! Muitos beijos.
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