segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Casa, casamento, e o tempo


Curioso descobrir um país onde se dá tanta importância ao casamento, tema recorrente na vida e nesse blog, e foi dupla a surpresa: o jeito dos indianos se casarem e a casa onde começam a nova vida de casados.
Quem casa quer casa, diz um ditado nosso, mas na Índia, a foto na mesinha da sala é a... da sogra – isso eu vi - já que é lá que a recém-casada vai morar, na casa da família do marido. Esperar para ter sua foto ali, então, só quando um dia for sogra, será isso mesmo? E mesmo com esse começo tão improvável, são eternos lá os casamentos, salvo as exceções de praxe, imagino. Mas até que a morte os separe tem alguma coisa a ver com felizes para sempre? Pelo jeito, não gostam de surpresas, e já que casamentos românticos é que são inconsistentes, acham melhor discutir tudo antes para evitar ingratas surpresas - será que não perdem as boas, nesse regime de tantos acertos prévios? Será que discutem também o lugar da foto?
É claro que a longevidade do casamento indiano é traço cultural, a tal da felicidade é que vá procurar o seu espaço. Sendo assim, a dor da separação é evitada, mas como lá evidentemente não se leva em conta a dor da manutenção, não sei se é vantagem. Além da consulta aos astros, há uma longa investigação familiar antes da união dos pombinhos.
E como as vontades costumam mudar de rumo com mais facilidade quando ainda não se amadureceu, o aparato familiar ajuda a manter a casa em pé, e livra a firma da dissolução. Faz algum sentido, mas continuo achando que se deve manter a família a uma distância regulamentar, e visitas sob consulta prévia, nada de ficar invadindo terreno ainda não sedimentado.
Mesmo não sendo indiana, eu acreditava ser preciso haver uma grande identidade entre os dois. Hoje acho que alguma há de haver, mas essencial mesmo é equilíbrio, de forças, além de sentimento, já que todas as relações humanas são regidas por disputas de território e poder, por mais doces ou velados que possam ser os embates. O que penso, sem medo de errar, é que cultura é coisa de se respeitar, e é melhor ficar cada um com a sua, já que é difícil dar conta da nossa, pois dentro de uma só cultura, quanta diferença. Mas por trás de uma cultura forte, não haverá uma economia fraca? Para que as mulheres sigam seus desejos, precisam pagar suas contas, isso é elementar. E o desejo, talvez eles tenham arrumado um jeito de administrar de uma forma extra-oficial, mas isso fica difícil saber num país tão velado e dissimulado e em assuntos - mesmo que hoje nem tanto - ainda muito íntimos.
Li outro dia que existem culturas orientais que valorizam a mulher madura e mais cheinha, nada desse modelo de jovem sílfide cultuado atualmente no lado de cá do mundo. Seria mesmo assim, até nas opções de casamento?
Duvido. Acho que é preciso mergulhar bem mais no Oriente antes de fazer as malas. Na Índia, pensei que a minha próxima surpresa seria descobrir que todos os indianos têm uma tatuagem no braço dizendo: amor só de mãe. E não seria de henna. Mesmo assim, soube que ficam loucos com a pele mais clara, e que acontecem muitos casamentos entre brasileiras e indianos, com resultados surpreendentes – não muito positivos e isso sim não é surpresa nenhuma.
Achava estranho, desde muito nova, ver que algumas amigas tinham o casamento como certeza ou meta. A mim, parecia mais lógico ele resultar do desejo particular de viver com alguém específico, daí o espanto de ver como ele é regra geral na Índia, e ver regido com regras tão rígidas o que bastaria envolver vontade e sentimento, pois sucesso no casamento rimaria mais com caráter, carinho, coração, confiança. Cada um no seu feitio e duração - e sem briga no final, isso sim, deveria ser regra. Mas ter que seguir um trilho permanente, ou se apoiar num dormente, é coisa de trem, não é coisa de gente.
Só que quanto mais um casamento dura, mais difícil fica mantê-lo, e mais difícil rompê-lo também. Uma contradição em termos. Se a gente se conhece e amadurece aos poucos, como pode querer que o cenário não mude? Espero que os astros tenham respostas para isso, e quem for descobrindo, que trate de aproveitar sua sorte. Individualismo não é bom para uma sociedade, mas é bom que se respeite as individualidades. Deixar a cultura cuidando do folclore e cada um que arrume como quiser e puder a sua casa.
Talvez o sistema indiano nos pareça frio e mercenário demais, mas temos por aqui nossos telhados de vidro, nossas regras e a falta delas também. As regras amparam e protegem, caminhar com as próprias pernas é sempre mais incerto e inseguro, mas com mais chance de nos levar onde queremos chegar, se há vontade, se a cabeça e os ventos ajudam.
Quando escrevo, às vezes releio e receio parecer muito pessoal. Aí penso que as procuras são universais, e certamente não é só de mim ou para mim que escrevo. Se fosse, bastaria pensar.
Talvez a gente procure felicidade demais. E quando ainda se atrapalha ao separar o que é sonho do que é realidade, se arrisca a ficar espiando a vida como se todo o cuidado fosse sempre pouco.
Não tenho, até hoje, nenhuma certeza. Tendo a acreditar mais em paixões eternas do que em casamentos eternos. Só o que posso dizer, do alto da minha longa estrada, é que ficam no coração os momentos em que a gente não pensa em nada disso que eu acabei de escrever aqui, e vive. Poder construir uma vida só com esses momentos seria o meu real sonho de consumo.

Um comentário:

una a caso disse...

hi! if you want look my blog!