domingo, 1 de março de 2009
No escuro
O filme “Call Northside 777”, de Henry Hathaway é de 1948.
O título no Brasil não conta: “Sublime Devoção” – esse tem a desculpa de ser de outro tempo, mas desde sempre, títulos que os filmes estrangeiros recebem aqui são uma história à parte. Títulos disparatados, ligeiramente ridículos ou, o que é pior, completamente reveladores, não devem ser surpresa para espectadores atentos. Já ouvi muitos casos risíveis de títulos em Portugal, mas não passam de mais piadas de português: "Psicose" em Portugal NÃO se chamou “O Filho que Era Mãe”! Chamou-se "Psico". Rimos, mas como é de praxe, não olhamos para o nosso umbigo.
Que tal “o Homem que Burlou a Máfia”("Charley Varrick" no original, EUA, 1973)? Será que é preciso ver o filme, depois de ler esse título? Esse não é piada. “Os Brutos Também Amam”, para “Shane”: mais um pouco e vira redação de escola.
Bom, voltando ao filme em questão, eu vi hoje um filme de sessenta anos atrás, diferente dos que de vez em quando vejo na tela aqui de casa. Reclamo da maioria dos filmes dessa época, especialmente dos filmes “noir”, que a wikipedia classifica como "filmes de um mundo cínico e antipático", e eu classifico como “filmes de mulher má”. Tem sempre uma mulher bem má na história, sórdida, pérfida, para desgraçar ou enlouquecer homens que podem não ser tão bons mas têm mais boa fé. Isso me deixa meio revoltada, independente dos filmes serem bons, como geralmente são. Pior do que as mulheres, só os jornalistas ficam, quando tem jornalista na parada. Está aí o clássico “The Front Page” que não me deixa mentir. Jornalista é pior do que mulher má, é desclassificado. Não sei o que o cinema americano tinha contra mulheres e jornalistas, mas existe uma quantidade enorme de filmes que não me deixam mentir.
Pois esse é um filme de jornalista bom. Quer dizer, não começava bom, era na verdade o menos bom da história – que eu não vou contar – mas a história era tão boa que ele foi melhorando, tão boa que parecia ficção – e é uma história real.
Bons tempos. Tempos em que os jornais dependiam das histórias que publicavam e do que os jornalistas escreviam para vender jornal. O dono do jornal consultava o jornalista sobre a história que ele ia escrever, ou estava escrevendo, o trabalho que ele estava assinando. A cidade inteira acompanhava, e a venda sustentava o jornal. Não era o anunciante que dava as cartas, não eram interesses misteriosos, desconhecidos e incompreendidos justamente por quem arregaça as mangas e faz o jornal. Evoluímos?
Às vezes a gente nem repara que o mundo está torcido e de cabeça para baixo. Ficção, realidade, o jeito é procurar na wikipedia para saber o que é o quê.
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4 comentários:
Respondendo a sua pergunta, não evoluímos. Sou daquelas jornalistas que ainda valorizam o conteúdo. E, por experiência, posso dizer: como é difícil emplacar algum projeto ou ser chamada para fazer algo que coloque em primeiro lugar o bom conteúdo, o serviço, a informação. Mas, vamu que vamu. Um dia a gente chega lá! Será?! Beijos.
p.s: Dicas de filmes - Milk - A Voz da Igualdade. Os críticos dos jornais não gostaram muito, mas não há trabalho melhor do que o de Sean Penn. Ele mesmo se superou. E "Quem quer ser um milionário?". Vc, que acabou de vir da Índia, vai gostar! Ou não...
Belíssima, concordo - o negócio é ir em frente, desanimar, jamais!
Já estou programada para os dois filmes. Sobre o Milk não tenho dúvidas, e pelo que já ouvi e li sobre o indiano, acho que deve ser bem mais parecido com a Índia que a gente vê na Índia do que com a que a gente vê por aqui... depois te falo! Grata & beijos.
OBA! Vou anotar as dicas das duas rsrs E, sabe meninas, acho q essa 'involução' q buscamos é MESMO o futuro chegando....Sei não mas, na dúvida, vou mantendo a calma e o ritmo "Desesperar, jamais!"...
a figura do jornalista e o jornalismo estao passando por uma transformaçao tao radical que a gente chega a pensar que estao mesmo para desaparecer.
A superficialidade se alastra!!!!!
AV
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