domingo, 20 de setembro de 2009
Em movimento
Vinte anos atrás, os filmes dele eram aguardados e imperdíveis. Era assim no ano de 1978, que eu passei em Nova York, e lembro do quanto eu ri quando descobri que Annie Hall tinha se chamado no Brasil Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. A moda muda, a vida muda, nem tudo resiste bem à repetição, mas eu não diria que seus filmes deixaram de me agradar, mesmo que não seja para mim um grande cineasta. Peguei no videoclube Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, já que não tinham ainda Whatever Works, o que eu queria ver. Fazia tempo que não via um filme do diretor mais identificado com Nova York, pelo menos com o East Side da ilha de Manhattan... mas gostei desse Woody Allen versão Almodóvar - esse sim, certamente um dos meus diretores mais queridos, mais surpreendente, mais à flor da pele, mais colorido. Mais humano, menos burguês.
Passeando distraída pela Broadway com a Lulu, minha filha* e muito boa companheira de viagem, não apenas pela ligação afetiva mas pelos interesses comuns, sei que foi muito bom ver, atrás dos cones que protegiam a entrada de um prédio, o diretor que parece fazer parte da paisagem da cidade. Não dava para parar, a produção implorava para que as pessoas continuassem circulando normalmente, e eu sou sempre solidária com a produção, mas deu para tirar rápidas fotos.
Não vi o filme, mas pela data deviam estar filmando Igual a tudo na vida (Anything else). Tinha esquecido o fato, uma arrumação nas fotografias me lembrou, e checarei breve.
Ficou muito caro filmar em Nova York, por isso ele interrompeu com quatro filmes feitos fora da cidade o que na sua filmografia era uma tradição. Whatever Works marca sua volta a Nova York, embora seja uma novaiorque bem mais ao sul, situado em Chinatown.
Acho que foi numa entrevista na tv que ouvi uma crítica ao fato de não ter em seus filmes nenhum ator negro. Não sei se é verdade. Quando acontece, a pós-produção os transforma em uma caixa de correio, dizia a cáustica e irônica crítica.
Li uma declaração sua de que Obama será um grande presidente, que vai reverter o desastre Bush. As fotos estão aqui para provar o flagrante, mas essa é uma postagem sem muitas certezas, igual a quase tudo na vida.
* e estilista, da marca e do site
Luluca
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Alegria
Não cura tudo, eu sei, e sei que depressão é mais embaixo, mas quando não estou muito animada, saio à procura de um lugar bonito. Não preciso ir longe, no Rio é até covardia. Covardia também é o que os cariocas, meus conterrâneos, deixaram e deixam fazer com essa cidade, não lutando por ela e não encostando na parede cada prefeito ou governador que por aqui passam, dando sua contribuição para ela chegar ao ponto que chegou. Mesmo sabendo que foram eleitos, acho que o Rio não merece. Um dia melhora, com uma ajudinha mais de cima, está até melhorando. Passar uns dias numa cidade do primeiro mundo, como Nova York, onde as pessoas costumam se tratar com cortesia e educação, faz notar aos mais atentos como é antipática a gente da Zona Sul do Rio de Janeiro. Posso falar porque sou carioca, e de um modo geral não tenho muitas queixas, costumo receber alguma gentileza em troca de um gesto simpático, mas noto que somos uma gente muito defendida. Arrogante? Egoísta? Acuada? Não é para amenizar, mas já amenizando, digo que não é só no Rio, em cada grande cidade brasileira, em suas áreas mais ricas, acontece o mesmo.
Costumo, por gosto e necessidade, fazer uma visita familiar em Petrópolis regularmente. Outro dia resolvi tentar ir de metrô até perto da rodoviária e depois pegar um ônibus. Sou aventureira. Acho bom ir lendo na viagem, e pegar uma estrada mesmo sem o conforto do carro. Em dúvida sobre a estação mais próxima, me informei no metrô com a senhora sentada ao meu lado. Como ela me sugeriu uma alternativa melhor, por um caminho que eu não conhecia, insistiu em saltar comigo, fora do ponto dela, para melhor me orientar. Pura gentileza carioca, ainda dos velhos tempos. O Rio resiste. E a minha busca pela sintonia com o título ali no alto da página também.
domingo, 13 de setembro de 2009
Desmedidas
Marco Zero em NY oito anos depois dos ataques de 11 de setembro continua ferida aberta, dizem as notícias lembrando a data.
Eu estava em Tóquio em 2001, quando vi pela tv o que aconteceu. Estava em Nova York em 2002, quando a memória da tragédia estava ainda bem fresca.
Todo tipo de lembranças e homenagens penduradas expunham as dores pelo que se passou ali.
O equivalente ao nosso churrasquinho de gato é alimentado pela romaria diária.
Uma fila ordeira e sem trégua ao fundo, uma turista e o aviso para não atravessar.
Esse brusco e inesperado desequilíbrio de forças no mundo não foi a primeira tragédia registrada nessa data, quando surgiu até uma listas de acontecimentos sombrios envolvendo o número onze. O 11 de setembro no Chile de 1973 certamente não teve tanto espaço na mídia mundial, e muito menos na parte sul do continente americano, num período especialmente negro da América Latina. Mais de três décadas entre um fato e outro, e no entanto eles têm uma raiz comum.
Parece mentira, mas enquanto escrevo, uma festa corre solta no prédio ao lado, coisa comum nessa cidade, apesar de um cenográfico e pirotécnico “choque de ordem”, e a música que entra altíssima pela janela parece encomendada para esse texto – “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...” Não posso reclamar dessa vez, a música me lembrou o quanto caminhamos.
Os dramas, as dores e desacertos não podem ser medidos pelo espetáculo que produzem.
Pode ter um adolescente de coração partido na festa ao lado e o seu drama é mais punjente do que todas as desgraças do mundo, são medidas pessoais. Alargar as medidas, nem todo mundo que cresce consegue. Com mais idade, a gente não sofre menos, só acaba aprendendo alguma coisa sobre dimensionar, relativizar, anular, ajeitar, fingir, ignorar, sobreviver em vez de viver como um dia sonhou. Frustração e falta de sonhos tem a ver com muitos dos descompassos do mundo, mas a ambição e a insensibilidade que regem os caminhos tristes que a humanidade toma é o homem no seu estado mais tosco, primitivo no pior sentido. Mesmo transbordando de gente, e até por isso, as soluções são também pessoais e devem ser intransferíveis. Cada um que trate de cuidar da sua cota para fazer a humanidade caminhar de um jeito mais justo e alegre.
Eu estava em Tóquio em 2001, quando vi pela tv o que aconteceu. Estava em Nova York em 2002, quando a memória da tragédia estava ainda bem fresca.
Todo tipo de lembranças e homenagens penduradas expunham as dores pelo que se passou ali.
O equivalente ao nosso churrasquinho de gato é alimentado pela romaria diária.
Uma fila ordeira e sem trégua ao fundo, uma turista e o aviso para não atravessar.
Esse brusco e inesperado desequilíbrio de forças no mundo não foi a primeira tragédia registrada nessa data, quando surgiu até uma listas de acontecimentos sombrios envolvendo o número onze. O 11 de setembro no Chile de 1973 certamente não teve tanto espaço na mídia mundial, e muito menos na parte sul do continente americano, num período especialmente negro da América Latina. Mais de três décadas entre um fato e outro, e no entanto eles têm uma raiz comum.
Parece mentira, mas enquanto escrevo, uma festa corre solta no prédio ao lado, coisa comum nessa cidade, apesar de um cenográfico e pirotécnico “choque de ordem”, e a música que entra altíssima pela janela parece encomendada para esse texto – “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...” Não posso reclamar dessa vez, a música me lembrou o quanto caminhamos.
Os dramas, as dores e desacertos não podem ser medidos pelo espetáculo que produzem.
Pode ter um adolescente de coração partido na festa ao lado e o seu drama é mais punjente do que todas as desgraças do mundo, são medidas pessoais. Alargar as medidas, nem todo mundo que cresce consegue. Com mais idade, a gente não sofre menos, só acaba aprendendo alguma coisa sobre dimensionar, relativizar, anular, ajeitar, fingir, ignorar, sobreviver em vez de viver como um dia sonhou. Frustração e falta de sonhos tem a ver com muitos dos descompassos do mundo, mas a ambição e a insensibilidade que regem os caminhos tristes que a humanidade toma é o homem no seu estado mais tosco, primitivo no pior sentido. Mesmo transbordando de gente, e até por isso, as soluções são também pessoais e devem ser intransferíveis. Cada um que trate de cuidar da sua cota para fazer a humanidade caminhar de um jeito mais justo e alegre.
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