sábado, 4 de setembro de 2010

Invasão branca, ou: sem bater na porta



O Jornal do Brasil de papel deixou de circular no dia 31 de agosto, e no dia seguinte me chega em casa de manhã um Estadão. Listas de endereços há muito deixaram de ser privadas, circulam sem nosso controle há muito. Antigamente, seria taxado como absoluta falta de ética espalhar assim dados pessoais como o nosso endereço, mas os negócios justificam tudo. Pega de surpresa, li o jornal de cabo a rabo. Já cancelei a cortesia, que insiste em chegar e me irrita levemente de manhã. É imperioso selecionar a enxurrada de informação indesejada que nos invade. Trabalho com informação, nasci assim curiosa e interessada, mas quanto mais o tempo passa, mais sinto a necessidade de ser seletiva com o meu tempo. E ele anda escasso, além do trabalho, os vendavais de agosto me trouxeram um velho projeto que agora me exige um gás que não sei se tenho mais, não sei se quero ter, mas afinal o que somos senão energia? Decidi investigar até onde a minha me leva. A lombar pode travar, o cotovelo pode coçar, mas a gente segue.
Experimentar é uma coisa. Já levar gato por lebre é mais complicado. A confusão entre o público e o privado, quando os envolvidos são pessoas públicas, seria tão simples de resolver seguindo ao pé da letra a lei, o regulamento do clube, a convenção do condomínio, o que mais se aplicar, para não citar o óbvio: clareza e ética. Num comportamento ético, não há o que se temer ou esconder. No entanto, é mais do que sabido que ética entre nós é coisa que vai ao sabor do vento, onde calhar, lembrada ou esquecida conforme a conveniência do momento. Do mesmo jeito que não interessa impedir que a festa do vizinho nos entre pelos ouvidos noite adentro, para evitar uma rigidez que não se possa quebrar conforme a nossa vontade e patente. Ah, os limites elásticos e os dois pesos por aqui... Brigamos orquestrados contra a pirataria, em nome da correção, mas não brigamos para numerar a produção artística e assim poder controlar, bonitinho, os direitos autorais devidos ao artista. Seria tão simples.
Privacidade aqui é coisa de quem já nasceu com direito a ela. Geralmente quem tem propriedade, saneamento básico, luxos em países desiguais. Mesmo que o tempo nos faça mais flexíveis, minha tendência, por hábito e temperamento, é a de preservar a minha, mas sou pelo direito de todos, todos mesmo. As pessoas são diferentes, têm direito à individualidade, mas os direitos têm que ser iguais. Cabeça serve para pensar, respeito divergências se bem intencionadas, mas não terceirizar meu pensamento, porque é para isso que cabeça serve, especialmente quando nossos cabelos já não são mais os mesmos, melhor reduzir a importância da beleza em nossas vidas e dar mais atenção à massa cinzenta. Passados os ventos de agosto, que setembro nos seja suave, outubro, e assim sucessivamente, amém. Meu café da manhã já não é tão alegre quanto já foi um dia, mas continua sagrado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta invasao da privacidade em nome do mercado, que esta sendo totalmente escancarada pela internet è inaceitavel. isso precisaria de uma regulamentaçao.
av