sábado, 11 de dezembro de 2010

Estrela, aquela (e o que mais nos conduz)


Volta e meia tenho vontade de escrever sobre o Botafogo, mas a primeira vez que fiz isso já me mostrou que é mexer em casa de marimbondo – minha postagem foi rastreada na rede e minha porção botafoguense foi questionada por conta de uma frase dúbia, não era nem afirmativa!
Eu não aprendo.
Outro dia ouvi uma admoestação de um colega que me disse que era o cúmulo ter nascido entre fundadores do clube e pensar - nem pensar! - em não ser botafoguense. Afinal, era “um clube de elite!” Fiquei espantada, de tanto que sou desconfiada das elites, estejam elas onde estiverem. Não importa se é na torcida do Botafogo que elas se encontram, não estaria com elas apenas por se sentirem a nata da nata, porque elite aqui não significa ser superior ou destacado e sim ser ou ter sido privilegiado e protegido, e nesse sentido, me parece que o Botafogo não apenas foi, ao longo da sua história, mas que isso ajuda a vestir a camisa com mais orgulho. Admito a minha ingenuidade: acreditava que pessoas que se sentem privilegiadas tivessem alguma solidariedade com as que eles não consideram que “nasceram em berço de ouro”. Nem explicitassem com tanta falta de cerimônia o preconceito contra o Flamengo da forma que já presenciei mais de uma vez, e não foi no calor da vitória nem na derrota. Quando o Fluminense ganha, o que mais ouço é: “bom, pelo menos não é o Flamengo.”
O Botafogo é a paixão mais marcante, cega e constante da quase totalidade da minha família, e reconhecer que quem jogou melhor tem o direito de ganhar uma partida não consta no dicionário dos apaixonados.
Eu até entendo, mas não consigo deixar de pensar no que seria do vermelho, ou do verde se todos gostassem do preto e branco, nem achar que isso seria mais normal do que se ajoelhar diante de uma estrela como se fosse a Meca (bom, eu nem entendo a Meca, mesmo...)
Lembro que um dia o Caulos fez uma charge no Jornal do Brasil que tinha uma estrela - não a do Botafogo, era a estrela do Natal que ele questionava – mas teve que dar explicações à minha avó, num telefonema, às sete da manhã.
Lembro também que ela ouviu de uma pessoa ligada ao clube, um comentário desabonador sobre o Botafogo. Ela não teve dúvidas e ligou para a diretoria. Prometeram tomar providências, mas desabafaram: - “Também a gente não poderia imaginar que a senhora estaria vigilante, assistindo a uma mesa de futebol que foi ao ar a uma da manhã!”
Eram, e continuam sendo, onipresentes. Olha o risco que eu corro...
Já ouvi dizerem que o Engenhão está muito mal conservado, e quem diz são os jornalistas – todos suspeitos de serem botafoguenses. Verdade é que o Botafogo não cuidou bem das suas sedes. Eu aqui não saberia citar fontes, mas um verdadeiro botafoguense deveria saber, e se defender! Eles têm toda razão de questionar o meu pedigree...
Distraída como sou, vou deixar de lado esse assunto. Aqui, sempre me interessou mais a questão da paixão do que a do futebol, e como não espero que nenhum marmanjo me absolva, acho mais seguro ser discreta com as minhas, e tratar das menos polêmicas.
Na linha de paixão incondicional e declarada, no começo da fila, não há como não pensar em filha - digo filha, porque é o meu caso. Não torturei a minha obrigando a torcer por um time que não ganhava havia muito tempo.

E se tivesse tido mais uma, teria chamado Isabel. Não pela princesa, mas pela Vila. Ela não ia reclamar! Samba é mesmo um feitiço sem farofa.
Mas farofa...huuuum...

“Eu sei por onde passo
Sei tudo que faço,
Paixão não me aniquila
Mas tenho que dizer
Modéstia à parte, meus senhores,
Eu sou da Vila” ( Noel Rosa)

Viva o centenário Noel!

Obs: a foto é da inauguração da pedra fundamental do Botafogo F.C.
A seta que indica "papai", mostra o meu avô.

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