quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Mundo Cão
Faz 15 anos, vi com minha filha em NY um espetáculo do Alvin Ailey American Dance Theater. A surpresa ficou por conta da platéia do teatro, quase que 100% formada de negros muitíssimo bem vestidos.
Minha filha, em todo o seu tempo de escola no Brasil, teve uma única coleguinha negra, bolsista da creche onde estudava, filha de um porteiro no Leblon.
Como eu acredito que a explicação do contraste tão grande entre essas duas realidades tem muito mais a ver com a reforma agrária que lá foi feita quando aboliram a escravidão e aqui não, acho que a mistura de horror e desprezo que o movimento dos sem terra provoca por aqui deve ser, mesmo que bem lá no fundo, horror e vergonha pelo bonde que perdemos, e pela prova clara da nossa rude falta de humanidade, tacanha a ponto de prejudicar o crescimento do país por todo esse tempo. A escravidão foi abolida aqui um dia, mas o escravagismo não nos deixou, apenas ficou quase invisível (para quem não sente isso na pele, naturalmente) de tanto que o olhar está acostumado à nossa realidade distorcida. Natural. Natural?
Nossas catástrofes também não são democráticas, e o que não achamos natural é quando vemos que elas não atingem apenas pretos e pobres.
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