domingo, 30 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Mundo Cão


Faz 15 anos, vi com minha filha em NY um espetáculo do Alvin Ailey American Dance Theater. A surpresa ficou por conta da platéia do teatro, quase que 100% formada de negros muitíssimo bem vestidos.
Minha filha, em todo o seu tempo de escola no Brasil, teve uma única coleguinha negra, bolsista da creche onde estudava, filha de um porteiro no Leblon.
Como eu acredito que a explicação do contraste tão grande entre essas duas realidades tem muito mais a ver com a reforma agrária que lá foi feita quando aboliram a escravidão e aqui não, acho que a mistura de horror e desprezo que o movimento dos sem terra provoca por aqui deve ser, mesmo que bem lá no fundo, horror e vergonha pelo bonde que perdemos, e pela prova clara da nossa rude falta de humanidade, tacanha a ponto de prejudicar o crescimento do país por todo esse tempo. A escravidão foi abolida aqui um dia, mas o escravagismo não nos deixou, apenas ficou quase invisível (para quem não sente isso na pele, naturalmente) de tanto que o olhar está acostumado à nossa realidade distorcida. Natural. Natural?
Nossas catástrofes também não são democráticas, e o que não achamos natural é quando vemos que elas não atingem apenas pretos e pobres.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O que é novo no ano novo


Se memória é emoção, a mais grata que guardo das festas de fim de ano é a do Bolo de Reis, com uma surpresa escondida, que todas as crianças da casa queriam adivinhar onde estava, para que ela viesse na nossa fatia, o que permitia fazer um desejo. Leio hoje que a inclusão do brinde foi proibida na União Européia, alegando motivos de segurança. Que tempos! Espero que isso não tenha abalado o costume português, por aqui desde o Brasil colônia. Basta que o bolo seja local, e não terá que passar por nenhum detetor de metais. De preferência, feito em cada cozinha, e que seja um bolo simples, como era na minha casa de criança, comido quentinho com manteiga.
O esquilo de porcelana que a minha mãe escondia como prenda e que tinha que voltar para o bolo a cada 6 de janeiro, se perdeu no tempo.
O meu bolo foi sendo incrementado, com vários pequenos objetos de metal, bem embrulhadinhos em papel alumínio, representando: fortuna com uma moeda, amor com um anel, viagem com uma ficha do Hilton, sabedoria com uma coruja de cerâmica, a lembrança mais próxima do nosso esquilo da infância. Tenho, acumulados, muitos créditos com os achados arqueológicos do Bolo de Reis. Os tempos mudaram tanto, e no entanto, a torcida, a surpresa e a fé em conseguir o que as prendas nos garantem continuam iguais, passadas de mãe para filha. Certeza mesmo, só os quilinhos a mais que essa procura nos traz, mas novo, é a gente que faz.