segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Hola, que tal!


Passando alguns dias em Buenos Aires descobri lá mais do que uma bela cidade, dei de cara também com muitas das nossas incoerências.
Recomendações antes de ir, ouvi várias, com relação à segurança – logo de quem e para quem mora no Rio...referências à hostilidade e ao olhar superior dos argentinos também. Sei que poucos dias não permitem a ninguém impressões definitivas, mas vi lá um comportamento de extrema educação, cortesia e até muita simpatia, mesmo andando por áreas bastante desiguais da cidade. Vi sim, sem nenhuma surpresa e com o constrangimento habitual, várias demonstrações de ignorância e má educação brasileiras, com atitudes de ostensivo desprezo e muita animosidade pelo povo e o país que visitavam. Por que vão lá então? Entrar em um loja falando português sem nem tentar ensaiar um portunhol e deixar que o vendedor se virasse para entender, não seria uma demostração de arrogância? Não pareciam se dar conta.
O que será que nos faz ver as coisas tão diferentes do que são?
Saí buscando explicações. Sei que existe muita rivalidade gerada pelo futebol, mas minha filha foi com a encomenda do filho de uns amigos para comprar uma camisa do Boca, porque criança não tem preconceito. O vinho, a comida, as compras, todos que vão lá adoram. Mas vai falar bem dos argentinos por aqui para ver a reação...são racistas, chamam os brasileiros de macaquitos, é a primeira coisa de me dizem. Não estou aqui para defender racismo, mas não consigo deixar de lembrar que na Argentina não houve escravidão, e acho que isso serviria de atenuante para uma eventual implicância deles, que provavelmente não é gratuita.
Nos arredores do aeroporto, vi imensos campos verdes onde as pessoas fazem pique-nique nos fins de semana sem que ninguém as importune, e não as tristes favelas que vemos ao chegar ao Rio e a São Paulo. Encontrei uma cidade limpa, com um povo despreocupado andando nas ruas. Fiquei num bairro residencial onde as sorveterias e os bares abrem até as 3 da manhã, cheios de mesas nas calçadas. Motoristas dirigiam com janelas abertas à noite. Os prédios não têm grades como aqui, as pessoas não vivem sobressaltadas com medo, não de um bonde de traficantes, um arrastão ou uma bala perdida, mas uma simples bicicleta por aqui já assusta. E é claro que não falo apenas do Rio, já me senti ameaçada em Recife, Fortaleza, São Paulo, ouvi relatos de amigos assaltados em Porto Alegre...quem não quer tapar o sol com a peneira vai concordar comigo.
Não entendo de economia, mas acabei de ler que há meia dúzia de anos mais da metade da população argentina tinha caído abaixo da linha de pobreza, e as coisas não degringolaram como por aqui. O primeiro motorista de táxi com quem conversamos – e como eles conversam! disse que não era peronista como Nestor Kichner, mas que reconhecia que ele acertou em muitas coisas. Nos últimos anos de alguma forma se reergueram. Vestígios de pobreza,vi muito poucos, comparados com os de qualquer grande cidade brasileira. Sou brasileira, gosto de samba, praia e futebol, amo tanta coisa nesse país, conheço e gosto de cada pedaço da minha cidade, tenho cada vez mais esperança, mas fico pensando – será que não daria para a gente ser um pouquinho mais... normal?

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