terça-feira, 17 de março de 2009
O papel da mídia
Não é o de embrulhar peixe.
Como passei minha vida profissional sempre em alguma redação, posso dizer que até hoje não existe ( mesmo para as pessoas de boa fé ) clareza, definição e certeza suficiente sobre o limite entre cobrir ou não cobrir, ser afoito ou ser furado, brigar por audiência sem atrapalhar, prejudicar, invadir ou até acabar com a vida de quem está, em última análise, nos ajudando a ganhar a nossa.
São muitas as questões, e muito, muito poucas as discussões. Existem certamente no meio acadêmico, em sites e blogs, em alguns sindicatos, talvez, e onde mais seja será sempre em escala muito menor do que entre a massa que exerce o ofício de falar ou escrever para muitos leitores.
O Brasil está longe de estar pronto, é um país apenas remexido. Formação mais acurada se dá em áreas mais técnicas, onde ela é absolutamente essencial. Fora disso, estamos sempre meio atrasadinhos, o que é agravado pela cultura, tão arraigada, de desconfiar de transformações significativas. São bem aceitas por aqui novidades aparentes, que retardam mudanças radicais. O país parece sempre em movimento, mas a moda muda sem mudar na essência. Todos aceitam que precisamos mudar, mas que há pouca esperança de que isso aconteça. Os problemas são sempre os mesmos, as pessoas são todas farinha do mesmo saco - disseminar a crença de que por aqui nada muda é o melhor caminho para se deixar tudo como está.
O curioso é que passamos por uma mudança bem radical nas duas últimas eleições. Não é pouca coisa, em um país de eternas capitanias hereditárias, eleger um ex-operário.
Como não é qualquer país do primeiro mundo que elege um presidente negro. Mas lá, a comemoração se dá mesmo por quem não espera grandes mudanças, mas é capaz de ver a última eleição americana como um marco histórico e redentor de muitas injustiças do passado e do presente. Aqui, mesmo quem teme grandes mudanças, há de concordar que o Brasil é um país de grandes desigualdades, e que seria melhor para todos que elas fossem menores. Mas nunca vi por aqui o sentimento de que só o fato de elegermos por duas vezes um ex-operário merece comemoração porque já é em si um fato histórico, digno, sim, de ser comemorado, independente de ser ou não ideal, de se gostar do eleito. Falo do fato em si.
Estou falando, repito, de pessoas de boa fé. As de má fé sabemos o que querem.
Acho que nos falta grandeza. Sem perceber, somos dominados pela cultura da “farinha pouca, meu pirão primeiro?” Ou levantamos, sem pensar ou reagir, a bandeira de quem pensa assim? Por que se reage com mais indignação contra erros de Português do que contra denúncias de corrupção pesada com dinheiro público, que poderia estar sendo usado na saúde, por exemplo? Menos dinheiro na saúde não pode ser responsável por falta de assistência e morte?
Parar para pensar - jornalistas trabalham com a cabeça, mas parece que a sombra do período autoritário não se foi quando passamos a eleger presidentes.
Posso não ter sabedoria suficiente, mas esperança não me falta. Já que lembrei um ditado, prefiro ficar com o “água mole em pedra dura, tanto bate...”. O problema é o tempo que leva, e o que se perde nessa estrada, mas tenho esperança de ver minha profissão encarada com mais cuidado, mais seriedade, mais questionamentos, e uma melhor compreensão do seu alcance. O Brasil vendeu mais carros, mais computadores, mais eletrodomésticos nos últimos anos. Vendeu mais jornais? Subiu a audiência dos jornais de televisão? Isso precisa nos preocupar, e sinceramente. Porque escolhas erradas, insinceras ou desconectadas podem resultar numa perda assim como a da galinha dos ovos de ouro.
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9 comentários:
Escolha. Essa palavra tornou-se tão importante pra mim de uns tempos pra cá. Acho que, à medida que vamos envelhecendo, percebemos que nossa rotina é nada mais que: acordar, fazer escolhas e ir dormir. E, como vc falou, querida Vanda, uma escolha errada pode ser fatal. Fatal para uma pessoa, para um grupo, para uma nação. Beijos.
Escrevi na semana passada mas o texto sumiu....aquelas coisas da tecnologia que deixam a gente maluco. Mas depois pensei: deve ter sido melhor assim. Aquele fatalismo que anda me perturbando ultimamente. Como tambem sou teimosa e nao gosto desses desafios do sobrenatural, vou enviar uma sintese do meu comentario sobre a informaçao.
Acho que falta debate e aprofundamento nos jornais, teves e internet. A impressao que se tem é de que tudo ficou superficial demais. Quem dita o ritmo é a internet, mais acelerada do que a teve, que agora deve correr atras. Nessa correria para aparecer mais, antes e melhor, quem perde é o leitor / espectador, sobretudo jovem, com menos possibilidade de parar para pensar.
AV
Escrevi na semana passada mas o texto sumiu....aquelas coisas da tecnologia que deixam a gente maluco. Mas depois pensei: deve ter sido melhor assim. Aquele fatalismo que anda me perturbando ultimamente. Como tambem sou teimosa e nao gosto desses desafios do sobrenatural, vou enviar uma sintese do meu comentario sobre a informaçao.
Acho que falta debate e aprofundamento nos jornais, teves e internet. A impressao que se tem é de que tudo ficou superficial demais. Quem dita o ritmo é a internet, mais acelerada do que a teve, que agora deve correr atras. Nessa correria para aparecer mais, antes e melhor, quem perde é o leitor / espectador, sobretudo jovem, com menos possibilidade de parar para pensar.
AV
Bella, quando escrevi pensava nas escolhas que independem da nossa vontade e até da nossa compreensão.
Para nós, restam as escolhas possíveis, e é delas que eu tenho me ocupado cada vez mais.
Como as grandes não estão nas minhas mãos, ainda acredito no poder das pequenas - noutras palavras, sou muito romântica... beijos!
Querida AV, se você soubesse como apanho da tecnologia... sinto não ter tempo para tentar me dedicar mais a esse mundo e a esse espaço.
Três vezes salve a internet, ou melhor, salve a liberdde e a curiosidade do ser humano, seja por que via for.
De fatalismo e teimosia, todos nós temos um pouco.
O mundo superficial deve estar na moda. Passa, ou passamos nós? No momento, tento se prática, porque minha taxa de otimismo está quase zerada. Nunca me senti tão peixe fora d'água. Mas passa, o mundo sempre sobrevive, os jovens acham sempre o seu caminho, especialmente se a gente se dedica, como nós, aos que estão à nossa volta. Dias melhores virão, tento acreditar... bjs.
Vanda, querida! Adorei conhecer vc!! Foi muito bom ver os textos que tanto gosto de ler virarem uma pessoa de carne e osso. Um grande beijo, Bella.
Bella, posso dizer o mesmo. Lugar inusitado, e nada programado - tinha sido resgatada na feira (onde fazem a melhor tapioca do mundo) pela minha filha para comprar um vestidinho de última hora. Vida engraçada essa nossa virtual, onde as pessoas se conhecem tanto antes de se conhecer... muito prazer!
Opa! A bella eu já conheci. Falta agora provar dessa tapioca rsrsrs e esbarrar com a Dona Vanda. Ai, as escolhas.....Hmmm, os jovens....Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o q eu sei....estariam velhos e apreensivos a respeito do mundo como eu. Ou apenas seguiriam jovens errantes...Concordo q nossa melhor certeza é sempre fazer nosso melhor e o legado q deixaremos ao planeta serão nossas melhores intenções. Saudações SEMPRE cordiais :)
Selma, posso te dar o mapa da tapioca, infelizmente já descobri todas as feiras da vizinhança que eles frequentam, mas acho que essa é uma atitude de amiga-ursa (ah, os hífens!?), estou no caminho inverso da comilança. Mas se é possível acreditar no que li, porque é bom demais para ser verdade, uma tapioca - sem recheio, que é como eu prefiro - tem menos calorias do que uma barra de cereal, afinal, é feita apenas com a goma da mandioca, não com a massa. A ser investigado, e com rigor, que esse assunto me interessa muito! Bjs
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