segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Esquerda
Está ali em cima o aviso, aqui é ao sabor do vento. Mesmo inconstante, vento tem direção. Temor não é da falta de rumo, mas falta de vento para soprar a vela, falta de vontades. Medo de perder o fio da meada, o fio de Ariadne que orienta no labirinto dessa vida, onde sei que sempre vivi com o coração na mão.
Linhas tortas, fatal atração, fácil a explicação: o inesperado tem mais graça que o esperado, o sonho é melhor que a realidade, cabeça no ar é muito melhor que pé no chão.
Vendaval pode trazer esperança de arrumar melhor o que está mal arrumado. O caos pode levar a um novo caminho, mas no olho do furacão é só o caos mesmo. Nada se move, vácuo, falta de ar.
Sentei tentando escrever sobre uma viagem. Meio perdida, pensando em como recomeçar, achei no bolso do casaco duas mensagens que me vieram dentro do biscoito chinês, junto com a conta do Ivy’s Cafe. É um bom chinês, pequeno e de vida ainda curta, mas já com história. Há apenas seis meses se estabeleceu no Upper West Side, expulso do East Village por um aluguel que subiu muito. Foi aberto por uma ex-bancária de Taiwan, que imigrou há 25 anos. O primeiro era ainda menor, mas acabou sendo escolhido pela comitiva do presidente da China, Jiang Zemin, para alimentar seu grupo de 130 pessoas por dez dias, hospedadas no Waldorf Astoria, hotel tradicional mas certamente sem tradição em comida chinesa. Tiveram que dormir pouco e praticamente morar no restaurante durante esse período em que serviram 3.900 refeições.
Ivy Lin é a proprietária, gerente e chef. Solteira, não teve e não tem vida fácil, mas tem seu restaurante e o orgulho de ter servido às três maiores autoridades chinesas.
O que os biscoitos me reservaram dessa vez foi muito diferente do que nas anteriores – isso, só alguém que tenha estado nesse espaço desde o começo poderá entender e julgar:
- “Sua vida amorosa vai ser feliz e harmoniosa”, disse o primeiro.
No segundo, um lembrete:
- “Não é importante apenas juntar anos na sua vida, mas juntar vida aos seus anos”.
As mensagens do biscoito chinês são como o vento, sem nenhuma garantia, mas Ms. Lin tem um bom fornecedor de biscoitos.
Romântica incurável, guardei as duas mensagens no bolso onde encontrei.
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4 comentários:
Amei!!Magica essa historia dos sabios bilhetinhos. Mas tambem queria saber mais sobre esta senhora chinesa. Fiquei curiosa pois o jeito como voce começou a contar deu vontade de continuar..........
bjs e và em frente.
AV
Querida AV,
A chinesa é tão boa de marketing quanto de cozinha, espalhou a história aos quatro ventos como todos os chineses fazem - botam o cardápio embaixo de todas as portas que encontram quando fazem uma entrega no prédio. Gostei do que li e fui parar lá. É um pouco mais gentil que os chineses de um modo geral, que costumam tratar todos aos tapas (não me refiro a tapas comestíveis, naturalmente...)e não deixa de ter uma história surpreendente, mesmo tendo se passado na verdadeira Terra Prometida que é NY quando dá certo.
Devagar as histórias vão surgindo, que lá tem é história, só é preciso achar o eco do lado de cá. Ando em crise de criação mas consegui até me animar copm isso, quem sabe estou a um passo de virar escritora - risos, risos e beijos.
Selma, amiga, respondo aqui onde já estou com a mão na massa, e acho que a postagem combina com o que você conta. Vendavais acontecem, eu costumo fingir que não, mas volta e meia levo uma boa espanada. A gente segue, né? Espero que você siga por aqui, onde sua visita e seus comentários são muito bem-vindos - o dicionário diz que é assim, mas é antigo. Será? Como eu também sou antiga, fica assim.
O afã é uma síntese maravilhosa para NY, adorei! Mas é um afã tão civilizado, que a gente acha até que a civilização tem jeito. Um beijo.
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