domingo, 6 de dezembro de 2009
Olhos bem abertos
Gosto do Japão, por muito motivos. Fiz por lá uma viagem de descobertas, e quando é assim ela continua muito depois que a gente chega no aeroporto de volta. E é curioso mesmo como a gente às vezes precisa dar uma volta ao mundo para perceber melhor o nosso quintal.
Aprendi vagamente em criança a não gostar dos japoneses. “São um povo falso, que balança a cabeça parecendo concordar, mas faz o que quer”, era o que eu ouvia. No Japão, fui entender que era ignorância nossa pensar assim. O sinal de aquiescência japonesa, que nos parece afirmativo, é apenas um sinal de que estão ouvindo, e registrando. Concordar já é outra etapa. Além de balançar a cabeça, eles pontuam a fala com um “né”, herança portuguesa, que nos dá a idéia de aprovação também, né? No caso era ignorância trazida e reforçada por viajantes profissionais que apreendem, no curto período que passam pelo país estrangeiro, o que sua capacidade e seu interesse permitem. Para aprender, além de coração aberto, o nariz não pode estar empinado.
Já sobre concordar, percebi que orientais não costumam concordar fácil com o que propomos, não. Se antiguidade é posto, o Oriente tem sua autoridade, e a qualquer cochilo nosso faz uso dela, especialmente quando você é mulher.
Morando nos arredores de Nova York, pude aproveitar algumas facilidades na vizinhança, como aulas de canto - bela ajuda para a alma e para os ouvidos – além de aulas práticas de conversação em inglês. Nessas, eramos eu e sete japonesas. Aprendi muitas outras coisas lá, mas fluência em inglês vi logo que seria difícil conseguir ali, por motivos óbvios. A primeira coisa que a professora americana fez foi pedir que todas trocassem telefones e endereços pois se alguém ficasse sem carro poderia pedir uma carona. Pareceu grego para as japonesas. Louvável o espírito solidário e democrático da gentil professora, mas as nem sempre reveladas castas orientais não permitiam seguir ali a prática “em Roma, como os romanos”.
O mundo é vasto, não dá para achar que culturas podem ser empasteladas só porque o avião e a internet nos aproximaram e a comunicação ficou fácil. Temos nuances tão distintas entre Rio e São Paulo, um do ladinho do outro, só por terem tido colonizações e destinos diferentes, como não serão profundas as diferenças entre um extremo e outro do planeta?
Só que quando o coração ajuda, diferenças só atraem. Aí o Japão fica perto.
Perto e presente: lido atualmente com um projeto que a minha filha quer que eu abrace: economizar para ir com ela ao Japão - isso significa levá-la, né? Compreendo que um país tão voltado para a estética seja o sonho de consumo de uma estilista, e ela não é uma estilista qualquer, mas por enquanto, fecho os olhos, faço ouvidos de mercador e uso essa meta como boa desculpa para não gastar dinheiro a rodo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário