quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
“O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”.
“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.
Como pode ser criado para a democracia um povo que pratica a igualdade com a escravidão, a liberdade com a escravidão, a fraternidade com a escravidão?
É preciso que os brasileiros possam ser proprietários de terra, e que o Estado os ajude a sê-lo. Não há empregos públicos que bastem às necessidades de uma população inteira.
O que pode salvar nossa pobreza não é o emprego público, é o cultivo da terra, é a posse da terra que o Estado deve facilitar aos que quiserem adquiri-la.
A propriedade não tem somente direitos, tem também deveres.
O trabalho sem a instrução técnica e sem educação moral do operário não pode abrir um horizonte à nação brasileira.
Haverá indiferença mais criminosa do que a indiferença com que a classe única que dirige os destinos deste país desde que ele se fundou, tem assistido ao crescimento desamparado da nossa população, à promiscuidade de nosso povo, à miséria que se espalha pro todo o país, à degradação dos nossos costumes, só se preocupando dos seus interesses de classe, de manter o jugo férreo dos seus monopólios desumanos e atentatórios da civilização universal?”
Joaquim Nabuco (1849 – 1910), político, escritor, diplomata, poeta, abolicionista.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Assim é...
Com a vida real sempre no calcanhar, não se tem chance de olhar muito pro lado. Ilusão é luxo só. Sonho de consumo, fruto proibido.
Mas a gente sempre acaba achando espaço para umazinha, porque ilusão é, na verdade, artigo de primeira necessidade, até quando não se sabe lidar muito bem com ela. Desconfio que as pessoas vivam até sem amor, mas não vivem sem sonhar com um.
A corda bamba é muito mais sedutora do que o líquido e certo, mas se ficar só olhando pássaro voando, acaba caindo do cavalo.
É um longo aprendizado saber a que distância a gente consegue ficar do chão, qual o tombo que agüenta levar. O ofício de equilibrista exige diploma.
Hoje, chego a achar bom perder uma ilusão. É sinal de que um dos pés se consegue manter no chão.
Já os dois, acho que é demais. Alguma patologia de estimação a gente deve poder guardar, escondida no bolso de dentro do casaco. Acreditar que Deus existe e é nosso conterrâneo, acreditar no que prometem os poetas, tem tantos e tão bons, não podem ser todos delirantes, teriam alucinações coletivas?
O Haiti existe, maldade é coisa concreta que merece o nosso desprezo, merece murro, mesmo em ponta de faca, não pode ser olhada como realidade. Realidade é a que a gente escolhe fazer, leve o tempo que levar. Com o auxílio luxuoso dos sonhos, das ilusões, do pensamento. Positivo.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
domingo, 17 de janeiro de 2010
Humanos
Li, em algum lugar que não lembro agora, mais um belo ditado vindo da África, continente que já nos ensinou tanto: “Se quer chegar rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá com os outros.”
Penso que escrever é essencialmente um ato de doação e procura.
Escreve-se por vários motivos, por ofício, pela necessidade que um talento tem de transbordar, por exibição, por afirmação, pela nobre iniciativa de partilhar o conhecimento, pela busca de afinidades, mas independente de talento ou resultado, quem escreve não quer ficar sozinho. É sempre uma mão estendida para quem lê. Mesmo que seja para uma só pessoa, é a expressão de um pensamento de quem quer ir além de si mesmo.
Eruditos se voltam com muita frequência para sua própria erudição, e acabam fechados e afastados, desinteressados mesmo por quem não acompanha ou compartilha seu apromoramento. Portanto, ter talento apenas não opera mudanças, não basta cultura e conhecimento para que a humanidade evolua, vontade de partilhar é a questão fundamental. Talvez por isso a evolução humana seja tão vagarosa, e acabe tendo mais sucesso na comunicação com as massas quem faz isso movido por algum interesse mais palpável e imediato, menos altruísta. Generosidade é a ponte, e tem mão dupla: aprendemos e assimilamos o que queremos absorver, o que permitimos que nos emocione. Como um bonus, quem não se fecha tem mais chance de se enriquecer e se aprimorar com as trocas.
Qualidades humanas de naturezas diferentes.
Enfrentar uma lauda ou uma tela em branco, coisa impossível para alguns, pode ser muito fácil para quem tem talento – mais fácil, muitas vezes, do que virar uma página.
Todos estamos abalados com o drama haitiano, esse país-vítima desde que se entende por nação, é não é certamente por um problema de religião ou raça.
Raça, a negra já mostrou que só não é mais forte do que pólvora e concreto. Religião tem servido de instrumento, através dos tempos, para governos ditatoriais e manipuladores. Países católicos, países islâmicos sabem disso. A geografia, pela localização estratégica, ao longo dos séculos, fez do Haiti um país-vítima muito antes do terremoto. Seria um pequeno consolo saber que os milhares de mortos pelo menos conseguirão despertar uma consciência maior para permitir que mais gente entenda porque é que o Haiti é tão pobre e indefeso. Essas considerações, junto com o trauma e o desconhecimento da língua, talvez sejam uma explicação mais plausível para a declaração do cônsul haitiano no Brasil, que vi anteontem na rede. A natureza humana é complexa e diversa, mas vou morrer sem aceitar fácil que possa ser tão perversa.
O Haiti se tornou a primeira república negra no mundo, em 1804. Um país tão pequeno ameaçou o mundo escravagista, e enfrentou por isso um boicote mundial por mais de sessenta anos liderado pelos (norte)americanos, que também apoiaram dois ditadores haitianos por três décadas. Acabaram abandonando a agricultura de subsistência para importar arroz dos EUA, passaram por um golpe que depôs o presidente, tudo isso aconteceu com a conivência da "elite" haitiana. Essa história não parece muito diferente da nossa. Pensando bem, pode ser mesmo muito perversa e pervertida a natureza humana.
domingo, 3 de janeiro de 2010
De primeira
Ultimamente não tenho ouvido. Vai ver é só porque não estou mais conversando com as mesmas pessoas, mas há uns dez anos, ouvia muito por aqui: “coisa de primeiro mundo!” A expressão me parecia daninha. Ninguém pode ser melhor do que é, mas acho que todo mundo tem que evoluir. Ilusão e deslumbramento não melhoram nada, pelo contrário, só atrasam. O que mais me incomodava é que quem mais enchia a boca com a expressão era geralmente quem mais viajava, mas pelo jeito não tão bem, ou então não conhecia direito o que estava elogiando.
Eu estava voltando de uns anos no primeiro mundo de verdade, e quando mencionava alguma coisa que tinha me entusiasmado lá e que eu desconhecia no Brasil, sentia que não despertava interesse, mais do que isso, não agradava. O primeiro mundo era aqui mesmo e pronto, me conformei.
Mas não consegui deixar de trazer uma publicação que peguei nas últimas férias, com a programação do último verão de um parque – apenas um, e não é o maior - de Nova York, que resolvi listar abaixo.
Programação de verão – 2009 – Bryant Park:
* Segundas ao por-do-sol, de 15 de junho a 17 de agosto – filmes clássicos na tela grande sob as estrelas.
* Hora do almoço às quintas com um cantor ao vivo interpretando os maiores sucessos dos musicais da Broadway, de 9 de julho a 13 de agosto.
* Piano no parque, de maio a setembro, no terraço superior, 42 concertos com os melhores pianistas da cidade, das 12h às 13:45.
* Aulas grátis: pétanque, tai chi, pipas, yoga, xadrez. Torneios de pétanque, gamão e xadrez.
* Encontro com aves exóticas levadas pelo centro educacional de um criadouro de pássaros.
* Sala de leitura sob as árvores – de 13 de maio a 15 de agosto, encontro com autores, escritores, diretores, contadores de histórias, leitura de poesias, escritores mirins, clube do livro.
* Diariamente no parque: cobertura de internet sem fio, centenas de livros, revistas e jornais grátis disponíveis para todos (oferta de um Banco), ping-pong (reserva de horários, raquetes e bolas grátis).
* Mágicos e jogos para crianças – junho, julho e agosto.
Junto com toda a agenda dos eventos, um mapa e as informações sobre metrôs e ônibus que servem o parque, que fica nos fundos da Biblioteca Pública de Nova York.
Quem sabe um dia cola por aqui... e se acontecer, eu não vou me importar nem um pouco de ouvir que nossa programação cultural é de primeiro mundo.
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