quarta-feira, 27 de julho de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Humaitá – o que será
Pessoas têm humores, num dia estão tristes e noutros não, algumas acordam tristes num dia e noutros também, outras não ficam tristes nunca. Isso é normal, mas eu me sinto sempre o oposto de uma ciência exata. Não estou à procura de um diagnóstico, acho que venceu meu prazo de validade para investigar questões internas. Seja o que for, é isso. Foi o que se pode arranjar. E enquanto viver, terei sempre uma crise de identidade por perto.
A que mais me embaraça é ter que responder por que time eu torço. Eu realmente torço, para mais de um, e essa questão não será resolvida. Outras me confundem mais, mas aí a gente deixa de lado. Já entendi que há uma diferença entre coragem e loucura, só que acho muito difícil dizer o lugar certinho onde passa essa linha.
Vivo numa encruzilhada entre Lagoa, Humaitá e Jardim Botânico. Oficialmente é Lagoa, mas bem perto, no largo do Humaitá, chamado Largo dos Leões, tem uma loja que vende capas de almofadas bordadas com as características de cada bairro. São lindas, e tive que comprar as três: Lagoa, Jardim Botânico, Humaitá. Levei também Santa Tereza porque talvez eu não dê três pulos em rumo, como dizem em Minas, um pouco longe daqui.
Passei um bom tempo conversando com minha querida tia Mariazinha, procurando saber melhor de onde eu vim. A gente só se interessa pelo passado depois de passado um tempo na vida. Ela mora no Humaitá, ando muito por lá, e me contou um dia onde era a casa em que minha mãe morava quando se casou com o irmão dela, meu pai. Hoje existe lá um grande prédio, justo onde, por total acaso, tenho cruzado a rua todos os dias. Mesmo sem muito rumo, parece que não me perco.
E de tanto que eu sempre gostei de procurar, comecei há muito uma coleção de dicionários, e num de tupi-português fui procurar a tradução do nome – há controvérsias, mas tem sempre uma pedra no meio dos nomes indígenas que procuro, ou é dura, ou é preta, ou é podre, ou “a que agora é negra”, como dizem que quer dizer Humaitá. Devia ser uma grande pedreira a vida dos índios brasileiros, mesmo antes da devastação portuguesa.
Família, energia, alento, caminhos. Temos que pelo menos tentar escolher os nossos, até mesmo sem saber direito onde vão dar.
Ontem
Hoje
sábado, 9 de julho de 2011
Em algum lugar
Vi, com tédio seguido de desconforto, o filme da Sofia Coppola, Somewhere, que aqui se chamou Um lugar qualquer - e acho que a tradução melhor seria Em algum lugar (mais uma vez, perdidos na tradução). Suspeito que era mesmo com tédio e desconforto que ela queria lidar, o que para mim ela fez com mais pretensão do que talento. Trata de uma vida ociosa e blasé, garantida pela fama de ator do personagem, inexplicável e rapidamente adquirida, como aliás sabemos que hoje acontece bastante, e até bem perto de nós. Para quê? A reflexão e o conteúdo crítico ficam por nossa conta, depois do filme encerrado, mas ele não me pareceu suficientemente poderoso para crescer como muitos filmes crescem bem depois de assistidos.
Fico com seu outro filme, Encontros e Desencontros (Lost in Translation), não só pelos belos olhos com que olho para o Japão, mas pelo conteúdo de humor e humanidade que se percebe ali.
Relações impessoais, sem particularidade ou consequência, tempos vazios, vida tediosa – tudo muito moderno, e tudo muito demais para quem vem de outro século, e não exatamente do final dele. O precário ator personificado no filme tem tudo a seus pés e se o filme não questiona isso, mostra que tudo cabe perfeitamente nesse estranho mundo. A única demonstração de sentimento vem da criança, os adultos ali não se salvam.
Minha geração sofreu com excesso de laços e compromissos, travas, culpas e exigências, e ainda não se desvencilhou por completo, que o movimento das pessoas dentro delas é mais lento que o da Terra e mais lento do que seus ligeiros meios de comunicação costumam apregoar. Tem que nascer de novo a cada dia. Mas tudo o que se conseguiu caminhar não foi para chegar à direção oposta. Liberdade não é ausência nem negação.
Perdida na minha própria tradução, ando com pouca vontade de falar das outras. E abandono o impulso tão caro, mas sempre tão fácil, de escrever, muitas vezes por descompasso com o nome que dei a esse espaço. Mas sei que o eixo do mundo não é o que a diretora Sofia mostra ali. Há esperança, em algum lugar.
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