sábado, 9 de julho de 2011

Em algum lugar


Vi, com tédio seguido de desconforto, o filme da Sofia Coppola, Somewhere, que aqui se chamou Um lugar qualquer - e acho que a tradução melhor seria Em algum lugar (mais uma vez, perdidos na tradução). Suspeito que era mesmo com tédio e desconforto que ela queria lidar, o que para mim ela fez com mais pretensão do que talento. Trata de uma vida ociosa e blasé, garantida pela fama de ator do personagem, inexplicável e rapidamente adquirida, como aliás sabemos que hoje acontece bastante, e até bem perto de nós. Para quê? A reflexão e o conteúdo crítico ficam por nossa conta, depois do filme encerrado, mas ele não me pareceu suficientemente poderoso para crescer como muitos filmes crescem bem depois de assistidos.
Fico com seu outro filme, Encontros e Desencontros (Lost in Translation), não só pelos belos olhos com que olho para o Japão, mas pelo conteúdo de humor e humanidade que se percebe ali.
Relações impessoais, sem particularidade ou consequência, tempos vazios, vida tediosa – tudo muito moderno, e tudo muito demais para quem vem de outro século, e não exatamente do final dele. O precário ator personificado no filme tem tudo a seus pés e se o filme não questiona isso, mostra que tudo cabe perfeitamente nesse estranho mundo. A única demonstração de sentimento vem da criança, os adultos ali não se salvam.
Minha geração sofreu com excesso de laços e compromissos, travas, culpas e exigências, e ainda não se desvencilhou por completo, que o movimento das pessoas dentro delas é mais lento que o da Terra e mais lento do que seus ligeiros meios de comunicação costumam apregoar. Tem que nascer de novo a cada dia. Mas tudo o que se conseguiu caminhar não foi para chegar à direção oposta. Liberdade não é ausência nem negação.
Perdida na minha própria tradução, ando com pouca vontade de falar das outras. E abandono o impulso tão caro, mas sempre tão fácil, de escrever, muitas vezes por descompasso com o nome que dei a esse espaço. Mas sei que o eixo do mundo não é o que a diretora Sofia mostra ali. Há esperança, em algum lugar.

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