quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Preto e branco


A cerimônia que nesta noite se deu na sede da General Severiano foi para reverenciar os fundadores, representados por seus descendentes. Não fui à homenagem, guardei o convite, e não os reverencio menos por isso!
O Botafogo para mim não é só um retrato na parede.
É uma onda de afeto pelo meu pai e pelo padrinho querido, pelos outros tios e tias que jogaram e torceram durante todas as suas vidas, o respeito pelo entusiasmo e a admiração deles por terem tido, por sua vez, pai e tios fundadores de um clube que cresceu tanto e vai tão longe, muito além da vida que já se foi e dos campos em que correram e suaram a estrelada e tão idolatrada camisa.
Entendo de verdade os corações sinceros que ainda batem por isso. Entendo quando passam essa paixão espontâneamente para os filhos. Só não entendo quando ouço alguém, volta e meia, se referindo ao Botafogo: “- Um time de elite!” A gente sabe o que a "elite" fez e faz nesse país há quinhentos anos, eles não sabem o que dizem! Mas desejos são desejos muito além da nossa vã compreensão, e não se pode esperar que quem se assume ou se quer elite vá se olhar com olhar crítico. Ou vá querer saber que existe uma diferença entre ser privilegiado e ser superior, e aqui me refiro a superioridades admiráveis: talento, inteligência, generosidade, humanidade. E também um bom time, que jogue um bom futebol, por que não?
Já para ser privilegiado e disso se orgulhar, é preciso acreditar que nobres eram ungidos por Deus, e acreditar também em Deus, para começo de conversa. Achar muito natural ter acesso à escola, e tão natural quanto, que outros não tivessem, sem que aí coubesse qualquer questionamento. Isso eu não quero e nem entendo. Também não entendo a grande confusão que pode causar uma cor quando deixa de ser branca e vira vermelha! Sobre cor da pele, melhor não falar. Houve um tempo em que se podia jogar num clube mas não se podia entrar nesse clube pela porta social. Houve um tempo. A vida, como uma bola, não é estática.
Cresci ouvindo louvores e glórias sobre minha família paterna, uma família com barão, baronesa, senador, governador, ministro. Acredito na boa índole familiar, e dela temos queridos exemplos, e é com eles que fico, porque não fui testemunha ocular da História, e sabemos muito bem que a História depende de quem conta e escreve. Fico, portanto com o carinho que se encerra em nosso peito.


Augusto, meu pai


Maninho, meu tio e padrinho

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezada Vanda,

Sou pesquisador da área de história e estava caçando informações sobre o Lauro Sodré até chegar ao seu blog. Pelo seu sobrenome, imagino que tenha algum grau de parentesco com ele, não? Atualmente estou trabalhando em um projeto de pesquisa que pretende contar como a trajetória de vida dele esteve tensionada entre o Pará e o Rio de Janeiro. Claro, que o aspecto político torna-se central. Mas, gostaria de abordar também outros elementos ainda pouco debatidos em função de sua figura como, por exemplo, o próprio significado de morar na capital da República e no bairro do Botafogo. Aliás, tenho muita vontade de conhecer os lugares em que ele residiu e saber mais sobre os grupos com os quais se relacionava para além do mundo político, como era visto pelos familiares, o que fazia fora da vida pública... coisas assim, simples, mas que quando cruzadas com outras informações acabam formando um mosaico interessante. Enfim, será que poderíamos conversar um pouco sobre este meu projeto [leia-se: será que você pode me ajudar?]? Ass.: Alan Christian.

vanda viveiros de castro disse...

Prezado Alan,

Sou bisneta, sim. Não sei se consigo te ajudar muito porque os que poderiam já não estão mais aqui entre nós, mas se quiser, pode me escrever para vandavc@hotmail.com

Abs,
Vanda

Vanda Viveiros de Castro