domingo, 28 de agosto de 2011

Essência



Dia desses vi uma entrevista ótima com a Bibi Ferreira, em que ela foi perguntada sobre seus cinco casamentos – ela achava que foram só quatro, a Bianca Ramoneda informou que eram mesmo cinco, e a propósito disso a Bibi comentou que se soubesse que todos são iguais, ficava só no primeiro, já que todos foram rigorosamente iguais.
Dizem que nossa memória retém o que encontra eco em nós, vai de encontro ao que a gente pensa, pisa em algum calo ou na faca cravada no peito que, quando a gente sente, trata de acomodar novamente para continuar vivendo.
Em mim, o comentário bateu numa ponta de desânimo que me assalta de vez em quando e eu pergunto: pra quê tudo isso? Vale à pena o esforço, a confusão, o sofrimento que a gente causa ou experimenta, só para tentar avançar um pouquinho, melhorar um pouquinho, descobrir alguma coisa boa e nova? Já abandonei muitos textos pensando nisso. Pra quê escrever?
A História tem mostrado: o destino da humanidade é tentar descobrir a pólvora, nos dois sentidos, o verdadeiro e o irônico. Tudo é cíclico, vai e volta, o que muda mais é o tempo que a volta dá. O novo nos empurra pra frente, mesmo que nem sempre para melhor.
A antiga diarista da minha filha, falando com ela sobre a nova, perguntou: ela gosta de passar roupa? Se gosta, não é boa de faxina. Esperta filosofia. Temos fórmulas conhecidas, seguimos padrões, muita coisa a gente já sabe antes mesmo de comprovar. Ao longo da vida, a gente vai reconhecendo os modelos.
Somos milhões, ou bilhões. Podemos ser previsíveis, mas não somos tão iguais, ou não haveria tanta guerra, ou talvez até houvesse mais e não existiria ninguém mais vivo na Terra, porque quem aguenta um igual?
Temos sutis diferenças, e salve a sutileza e a diferença! Somos iguais a nós mesmos, nossa visão crítica (e nossos medos) é especialmente a dos nossos próprios defeitos.
Volto para o fio da questão existencial, o sentido da vida, e o que faz sentido na vida. Eu, desconfio até que nem para adubo servimos, mas estamos aqui, e a vida tem mesmo muita coisa boa, como a média com pão quentinho e manteiga que tomei hoje na padaria. Mesmo com as notícias da banca em frente estampadas nos jornais.
Escolhas e expectativas também variam, não só a de vida. Tudo ali no DNA. Um amigo, bem posto na vida, sócio do Country e cioso de tudo de bom que a vida pode oferecer, era amigo de um primo meu, que nunca trabalhou e vivia modestamente com o que herdou, e satisfeito.
O espanto do meu amigo não era com a “sorte” ou - para mim, misteriosa - escolha de não trabalhar e conseguir mais da vida, mas sim com a desambição do meu primo, e observou: ele não era bicão! Não estava nem aí para bocas livres!
Ele não entendia o espírito desprendido e às vezes bem desajuizado, recorrente em boa parte da família, mas eu entendo o espanto dele, porque é quase uma regra: quanto mais se tem, mais se quer, com a tendência de achar muito natural ter direito a tudo e mais um pouco.
Acho que estamos aqui para viver o melhor que pudermos, não complicar, viver e deixar viver, porque o inferno dos outros é também o nosso inferno.
Aprendi algumas coisas na vida. Temos que cuidar do nosso - mesmo se pequeno - espaço. Eu busco beleza, paz, equilíbrio e alegria.
Procurar com a maior calma e clareza possíveis a melhor escolha ou direção, em harmonia com o que está ao nosso redor e a maior generosidade que se conseguir ter com os outros e conosco mesmo. Cuidar do cotovelo, contra a dor e a psoríase. Saber analisar nossas reais possibilidades, sonhar sim, mas querer o impossível é caminho curto para a infelicidade.
Já a fórmula para conseguir isso, aí são outros quinhentos...


Floradas na serra - orquídeas e manacás

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