Venho tentando compensar a falta de orgulho com prazer, e me dei conta de que o único vício que adquiri e me permiti nesses tempos de poucas alegrias e muita salada, é uma tapioca na feira de sábado. Quando provei pela primeira vez, não gostei. Resultado da sabedoria indígena, tapioca é feita com a goma da mandioca, extraída num processo quase “científico”, aprendi ali. Crocante, recheada de queijo coalho e/ou côco ralado, o resultado é quase um milagre de tão bom... é tão sagrada quanto o biscoito mentirinha, torrada de pão Petrópolis, croquetes da Pavelka.
Saí por poucos dias do país e quando voltei, vi que tinham profanado a tapioca, usada como instrumento para mais uma denúncia no mínimo duvidosa. Parece que não só a conta da mandioca já foi sanada mesmo antes da denúncia, como muitos agora até gostariam de esquecê-la para sempre, mas não pude deixar de lembar Vitor Hugo e seu personagem em Os Miseráveis, condenado por roubar um pão. Mesmo que o dinheiro não tivesse sido devolvido para os cofres públicos, esse eu perdoaria como justa causa. Afinal, a tapioca é o pão do norte e do nordeste brasileiros. Por isso espero que todos os deuses indígenas que ainda penam por aqui se encarreguem de rogar uma boa praga contra quem foi capaz de tal vilania.
foto: paturis em formação, vistos da janela. Clique para ampliar.
Um comentário:
Apesar da personagem principal de seu texto ser a tapioca dos cofres públicos, não pude deixar de me submeter a uma sessão nostalgia, com os biscoitos "mentirinha" e os croquetes incríveis da Pavelka. Se bem que os do Alemão são páreo duro...
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