sábado, 2 de agosto de 2008

Os masai e os negócios


O artesanato masai é dos mais bonitos e bem feitos que já vi, e pode ser mais ou menos encontrado nas cidades, já que eles vivem espalhados por várias regiões do país, embora reinem absolutos na reserva Masai Mara, e em torno do parque Amboseli. Na aldeia que visitamos, as peças eram especialmente bonitas, mas negociar com eles não é tarefa fácil. É impossível fotografá-los sem pagar. Para filmar a aldeia, a negociação é longa. Tem um representante encarregado de negociar, em dólar, a taxa e a duração da gravação. Masai não dá recibo, ele avisou logo. Acertados os cinqüenta minutos, já que era fim de tarde e eles tinham hora para recolher o gado, não podíamos atrapalhar. Entrando na aldeia, decepção: estava deserta, todos tinham entrado nas cabanas. O povo não gosta de aparecer, o chefe me explicou. Nova argumentação, e já que o sol ia se por, e eu queria o dinheiro de volta, acabaram saindo e se exibindo com toda a sua exuberância de cores, e muita simpatia, mas dentro da aldeia não me deixaram usar a minha câmera - aí era outro preço. O tempo foi suficiente, e não queríamos mesmo ficar mais: as cabanas são feitas de estrume, o cheiro é muito ruim! O gado é guardado toda noite no centro da aldeia. Essa imagem, lamententei não ter feito. Aí seria outro preço, e mais do que pelo preço, não tínhamos mais tempo para outra rodada de negociações...
Finda a visita e a gravação, nos levaram para o “mercado”, ao lado. Ali não contava tempo para efeito de pagamento, queriam mostrar seus trabalhos, dispostos como em qualquer feira de artesanato bem simples, uma barraca ao lado da outra, cada uma com o seu artesão exibindo seus objetos. Mas as instruções para a compra eram bem diferentes. Nada de saber o preço para ver se levava ou não. Você tem que juntar tudo o que quer, não importa em que barraca estava – eles sabem. Com uma rápida olhada o negociador tem idéia do volume das suas intenções de compra, o volume parece determinar a maior ou menor disposição para baixar os preços. E aí começa o processo de negociação: você tem que escrever num papel o número correspondente ao que oferece por cada objeto, levando em conta o que pediram por ele. Escreve um lance, ele escreve outro. Você escreve outro, ele decide e pronto – depois de perguntar para o artesão se está de acordo. Aí você vê se leva ou não. Me pareceu que as mulheres é que são as artesãs, os homens só negociam. Complicado e um pouco demorado, mas pude ver que eles têm senso de humor, se divertiram muito com nossa argumentação. Gostam de trocar, pedem para trocar tudo, mas no final não quiseram meu suéter. E não cobraram pelas fotos.
Minha equipe disse que eles me enrolaram. Não acredito. Fiquei contente com tudo que comprei, embora não saiba mais quanto paguei: masai não dá recibo (mas muitos falam inglês, e as crianças agora vão à escola). Eles também ficaram satisfeitos: no final, no bloquinho de compras, escreveram o nome, endereço da aldeia, e me disseram para mandar todo mundo do meu país para lá.

2 comentários:

Selma Boiron disse...

MAIS UM POST INTERESSANTE, VANDA! Vou agora lhe fazer um pedido especial: por acaso a produção da Turquia foi sua? Eu amei a 'viagem' e fiquei encantada com as paisagens e curiosa de como seria seu pontio de vista e de como teria sido o backstage daquela produção. Qq informação daquele país, qq relato q vc possa fazer e eu aperto o cinto pra viajar tb! Abs cordiais;)

vanda viveiros de castro disse...

Querida Selma, não produzi a Turquia, não, mas tenho uma pequena história para contar e outras para juntar às que já andei contando por aqui sobre o Egito, que prometo contar em breve nesse blog-sherazade...beijos