
A cada nova tragédia anunciada, e mais ainda, a cada reação que vejo elas provocarem, maior o impulso de me voltar para dentro. Menos a ver com fuga e mais com a necessidade de reafirmar o próprio juízo, assim feito esfregar os olhos para ver se o que estamos vivendo é mesmo verdade, porque a realidade muitas vezes tem cara de ficção, e de má qualidade. Mesmo estando em descompasso com o mundo em volta, me recuso a achar que eu é que estou de cabeça para baixo – ou ponta-cabeça, dependendo de onde se lê. Acho, diante das demonstrações de falta de senso, que as pessoas estão desaprendendo em massa a usar a massa cinzenta, deliberadamente ou porque a orquestração esteja cada vez pior, já que nem todo mundo quer ou pode exercer com independência essa nossa faculdade tão pessoal e especial.
E quanto mais gente vejo agora estudando filosofia, mais desconfio que esse estudo deveria que ter vindo muito mais cedo na vida. Não tive nenhuma grande escola, mas acho que elas tinham um grande currículo. Alguma coisa funcionava melhor, e acho que o momento em que se aprende faz uma grande diferença. Adultos, fazemos escolhas, mas a base dessas escolhas está no que recebemos muito antes, mesmo que cada um tenha seu tempo para assimilar. Infelizmente não consigo deixar de associar à televisão, em um país tão carente de opções quanto o nosso, parte da culpa por um comportamento muito mais passivo do que estimulante e educativo, e gostaria muito de viver para ver isso mais pensado e discutido, e essa responsabilidade melhor avaliada.