quarta-feira, 28 de março de 2007

A Cartomante

Não é só um mapa astral.
Uma cartomante também acaba vindo com o tempo.
E se for uma inusitada criatura, com uma rala cabeleira ruiva, muitos quilos a mais, melhor ainda.
Velas, copos d’água, pedras, cristais - tudo em cima - em volta da mesa.
Mesmo que o aparato pudesse sugerir um cenário produzido, ela passava muita sinceridade, até porque cobra muito pouco e não tentou me explorar em nada.
Não me disse muita coisa, nem precisava, de tão inesperado o pouco que me afirmou. Quando falava na vida sentimental, lá vinha a carta de um urso – era um amigo que ia me aparecer na vida. Saí de lá com a falência de meu casamento decretada, a notícia de uma futura amante do meu marido, e um amigo urso (que tinha um passado, era certo, mas ela jurava que era melhor do que eu pensava, e ia se regenerar). O mais inesperado, no entanto, foi ouvir, junto com palavras estimulantes, diante do meu espanto e desconfiança, a história da vida dela: foi casada por muitos anos, como atestava uma foto da noiva e um homem de farda num porta-retratos, mas me confessou que, feliz de verdade, ela foi só por alguns meses, com um amante que era bem gordo, feio, pobre e também casado. Lembrei logo da história de um amigo, que, visitando uma prima no interior de Minas, perguntou se ela estava feliz. A prima, que havia se casado há alguns anos, pensou um pouquinho e respondeu bem à mineira: “para dizer a verdade, uma boa gargalhada, nunca mais eu dei...”.
Talvez esse amante improvável tenha feito com que a minha cartomante tivesse dado boas gargalhadas.
Eu não devia me desesperar, ela me disse. A vida é mesmo muito surpreendente.

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