sexta-feira, 16 de março de 2007

Picadeiro - praga ou chaga


Caetano Veloso disse que a gente não sabe nunca mesmo o que é que quer uma mulher. Embora admire o talento, costumo discordar dele, mas aí pode até ter alguma razão. Se os homens têm mais músculos no corpo e as mulheres têm mais água, pode ser que a lua exerça uma influência maior sobre esse nosso sexo. Teríamos marés. Variamos com as fases da lua, os hormônios, as aparências (somos muito infelizes em dias de cabelo feio). Alguma explicação há de haver, tenho certeza que a ciência um dia descobrirá e nos redimirá de tudo.
Mas muito mais difícil do que saber o que quer uma mulher, é saber o que realmente quer um homem que quer muitas mulheres, por exemplo.
Pode haver muita diversão e arte na vida desses seres, mas como devem também ter uma vida mais trabalhosa do que seus pares menos diversificados no amor, eu descartaria como motivação para o seu comportamento apenas a busca incessante do prazer. Não pode ser só isso: mulheres podem ser maravilhosas, mas também bastante complicadas, às vezes dão trabalho. Acho que não compensaria. É preciso sempre fingir um pouco, representar um pouco... Bom, quem sabe essa poderia ser uma explicação: vocação para as artes cênicas (ou seriam mais para cínicas essas artes?)
Ao longo da vida, entre colegas ou amigos, pude ouvir alguns se queixarem tanto do excesso de oferta feminina quanto dos excessos femininos - aí a propaganda definitivamente é a alma do negócio - mesmo sutil e mascarada, é arma sempre utilizada, mesmo que pareça a esmo.
O que os move? Amor demais? Juízo de menos? Coração forte ou fraco?
Fico intrigada. Claro, não teriam sucesso se não fossem sedutores, o que explica pelo menos parte do interesse que despertam. Também se não fossem, as mulheres nem lhes dirigiriam a palavra.
“Perturbadores de tranqüilidade”, como podem ser vistos aos olhos da lei, existiram ao longo da história, mas para quem, como eu, não consegue decidir rápido se deve dobrar à esquerda ou à direita, gostar de ter um leque de opções sempre à mão é coisa mais do que misteriosa, dolorosa até.
O que querem eles, na verdade, com tantas mulheres? Acabar com elas? Acabar sem elas? Só dormir com elas? Preferem, aliás, só isso? Procuram alguém de Marte? Certeza mesmo, acho que só uma: gostam muito de futebol, provavelmente mais do que da pessoa que têm ao lado no momento, por isso fugir deles costuma ser o primeiro mandamento entre mulheres inteligentes e sensatas. Contudo, é difícil acreditar que eles não contem com a conivência feminina. Mulheres costumam acabar como vítimas, mas desconfio que elas fazem vista grossa e tenham participação ativa no sucesso dos intentos desses seres, como resultado da grande mudança que o comportamento feminino sofreu nas últimas décadas, para o nosso bem e para o nosso mal.
Sei que eles podem espalhar muito sofrimento e isso não tem nenhuma graça, mas olhando de uma certa distância, essa categoria pode ser vista até com humor. Acho mesmo que nem sempre merecem o julgamento negativo que recebem. Às vezes seu empenho chega a ser comovente. É certo que manipulam a carência feminina, mas não seriam eles carentes também, querendo aprender alguma coisa com as mulheres? Inseguros, precisam de aferição constante sobre sua pessoa e desempenho. Tanto que estão sempre buscando uma segunda opinião.
Perdidos, correm sempre para dar a mão para alguém.
Quem sabe estarão apenas fazendo o bem, generosos e pouco criteriosos que são, uma espécie de cruzados da era contemporânea, destemidos defensores da macheza em sua mais pura essência?
Mas muito preocupados com quem está a seu lado ou à sua frente, não parecem ser, não.
Bom, e as mulheres?
Antigamente, quando "se perdiam", estavam perdidas para sempre. Hoje, ficam só menos felizes, para sempre ou não. Muitas vezes seguem procurando, tontas, onde é muito improvável que achem o que procuram.
Se não se casaram, querem um dia se casar. Mesmo com incertas intenções. Querer casar, afinal, nem sempre pode ser considerado louvável. Não querer pode ser até um gesto nobre em determinadas circunstâncias.
Mas se o seu intuito não é sempre o sagrado dever de constituir família, continuam sendo ligeiramente malvistas. Mas aprenderam a não ligar muito para isso.
O que eu acho que as mulheres ainda não consquistaram mesmo foi o sendo de humor. Será que já aprenderam a rir o suficiente, deles e de si mesmas? Porque diante de alguns papéis e em muitas situações na vida, rir continua sendo – mesmo que depois de algum choro, ou de juntar os cacos - o melhor remédio.

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