
Meu “quarto” num hotel de acampamento na reserva Masai Mara, no Quênia, tinha um teto de madeira, um chão de cimento, um banheiro “de verdade”, e uma barraca de lona acoplada a ele. Era bonito, e ficar num lugar assim pode parecer coisa de turista ou criança querendo brincar de aventura. Mas quando você ouve o barulho do rio que passa em frente, o movimento dos bichos que vem beber água à noite, o ruído dos galhos das árvores roçando na barraca com o vento, começa a fazer um pouco de sentido, dá para perceber a diferença entre um hotel tradicional e dá até para sentir um pouco de medo. As camas tem mosquiteiro, a iluminação é fraca, sua “porta” é um zíper, sem chave. O clima está garantido, e até um pouco mais do que o clima. O guia que te leva da entrada do hotel até a barraca recomenda que o zíper fique fechado. No terceiro dia eu já estava acostumada com a vida ali e cansada de tanto abrir e fechar o zíper a cada vez que passava, só encostei a lona quando entrei. Estava arrumando minha mala quando vi duas mãozinhas pretas abrindo a barraca. Logo depois, uma cara preta, e os pelos brancos do macaco vervet. Fiz um gesto para espantá-lo. Nada. Gritei para ele sair, ele continuou a me encarar e estudar o que via em volta. Bati na mala, fazendo um barulho de tambor. Ele continuava lá. Além de assustada, me senti ridícula, mas mesmo assim apelei: out, out! – vai que ele entendia inglês...?
Tive que me armar de coragem e partir para cima dele antes que entrasse completamente na barraca, e só quando cheguei bem perto, ele desistiu e saiu. Na manhã seguinte, quando contei para o motorista africano o aperto que passei, ele riu e me disse: não adianta você gritar, ele não vai embora, ele não tem medo dos brancos, só tem medo de nós. Achei que era conversa fiada, mas a explicação do Peter era tão absurda como convincente:
“Os brancos não jogam pedras neles, eles sabem que só nós jogamos...”




Um comentário:
Oba! Mais Quenia, mais África, uebaaa!!
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