segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Procura-se


A cada nova tragédia anunciada, e mais ainda, a cada reação que vejo elas provocarem, maior o impulso de me voltar para dentro. Menos a ver com fuga e mais com a necessidade de reafirmar o próprio juízo, assim feito esfregar os olhos para ver se o que estamos vivendo é mesmo verdade, porque a realidade muitas vezes tem cara de ficção, e de má qualidade. Mesmo estando em descompasso com o mundo em volta, me recuso a achar que eu é que estou de cabeça para baixo – ou ponta-cabeça, dependendo de onde se lê. Acho, diante das demonstrações de falta de senso, que as pessoas estão desaprendendo em massa a usar a massa cinzenta, deliberadamente ou porque a orquestração esteja cada vez pior, já que nem todo mundo quer ou pode exercer com independência essa nossa faculdade tão pessoal e especial.
E quanto mais gente vejo agora estudando filosofia, mais desconfio que esse estudo deveria que ter vindo muito mais cedo na vida. Não tive nenhuma grande escola, mas acho que elas tinham um grande currículo. Alguma coisa funcionava melhor, e acho que o momento em que se aprende faz uma grande diferença. Adultos, fazemos escolhas, mas a base dessas escolhas está no que recebemos muito antes, mesmo que cada um tenha seu tempo para assimilar. Infelizmente não consigo deixar de associar à televisão, em um país tão carente de opções quanto o nosso, parte da culpa por um comportamento muito mais passivo do que estimulante e educativo, e gostaria muito de viver para ver isso mais pensado e discutido, e essa responsabilidade melhor avaliada.

3 comentários:

isabella saes disse...

Engraçado, estou lendo agora a biografia de Samuel Wainer e muitas das descobertas que estou fazendo sobre a imprensa brasileira têm a ver com esse ótimo post!! Um grande beijo, Bella.

p.s: Já viu "Fatal"? Fica aqui a minha dica de cinema, sei que vc tb gosta muito. Filmaço com Penélope Cruz e Ben Kingsley, o nosso eterno Gandhi. Só não esqueça o lenço, as lágrimas são inevitáveis.

vanda viveiros de castro disse...

Ah Bella, esse ofício de jornalista merece muita reflexão, não lembro de sentir tão pouco orgulho dele como nesses tempos, embora alguns bravos ainda consigam honrar a profissão, levantando com isso nossa moral. Como eterna esperançosa, acho sempre que alguma luz virá depois da crise - porque não tenho dúvida de que vivemos um momento muito crítico na grande mídia de um modo geral, infelizmente. Aceitar mudanças, adaptações e tendências não pode significar cega obediência à ditadura da audiência. Só a inquietude nos salvará. Avante!
Valeu a dica do filme, e achei curioso você falar em Gandhi, depois você vai ver porque. Bjs

isabella saes disse...

Opa! Tô sentindo que lá vem um post sobre a Índia! Bom, ainda sobre o assunto "ditadura da audiência", o que foi a cobertura de alguns veículos no caso do sequestro de Santo André? Meu Deus!! Passou de todos os limites do que eu compreendo como ética... É verdade, só a inquietude nos salvará. Fiquemos muito inquietos, então!! Beijos ansiosos pelo novo post, Bella.