sábado, 28 de abril de 2007

Abrindo caminho entre as linhas tortas, na tentativa de decodificar o meio de campo


Tem uma hora em que a vida parece chegar numa encruzilhada, e a gente bem no meio, entre o passado e o futuro, as cavernas e o átomo, a vara de marmelo - alguém já viu uma? - e Freud.
Acho que todas as pessoas, independente da geração ou da época em que vivem, passam por isso. Turning point.
Lembro sempre de um tio que, não sabendo o que dizer diante de uma situação pouco ortodoxa envolvendo uma amiga nossa, sentenciou: “antes havia moças direitas e as que não eram de família, hoje não sei, embolou o meio de campo...”
Sempre achei a historia engraçada, e embora de fundo moralista, já trazia uma aceitação no desabafo.
Depois de algumas décadas vividas, acho que volta e meia a gente tropeça é no descompasso entre o que aprendeu quando era criança e o que vive no cínico e sonso mundo adulto. É uma encruzilhada ética. As medidas saem do manual de instruções dos pais e professores e passam a ser nossas.
E aí começam as diferenças. Mentira vale se for por justa causa. E o que é que vale mais, ser mais sincero ou mais delicado?
Humildade, simplicidade, modéstia, antigas qualidades ensinadas à exaustão num passado nem tão distante assim, são hoje um estorvo a ser evitado a todo custo, desprezíveis empecilhos na adulta corrida de ratos.
Corrida em que, às vezes, a gente tropeça por falta de um desses ensinamentos meio antiguinhos... Alguns viram clichês – autenticidade, para lembrar um, e quando passam, depois de muito batidos, parece que levam junto com a palavra o significado dela. Confiança. Ainda se consegue em algum lugar?
Outro dia, li na internet um texto onde a moral da história era louvar as qualidades da estratégia. Por caminhos completamente dissimulados, ou seja, falsos, se chegava onde se queria. Inteligência e talento em edição revista e atualizada. Novos tempos, novos costumes. Melhor evitar julgamentos e comparações, sobreviver nesses tempos de superpopulação não é uma tarefa fácil.
Em tempos ideais, a razão é a razão, não precisa de estratégia.
Só sei que não consegui ainda chegar à conclusão se a vida vai ficando mais fácil porque acumulamos o que aprendemos - quando aprendemos - ou mais difícil porque vamos ficando com um descompasso entre o que aprendemos que era certo e o jeito em que precisamos viver nesse insensato mundo que nos coube.

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