quarta-feira, 13 de junho de 2007

Tempo


“O amor é um artigo em extinção”, li numa revista, numa sala de espera.
Tinha que ser logo agora, na nossa sempre curta passagem pela Terra?
Será que fomos nós os culpados, por um jeito desastrado de conduzir ou é só o rumo natural que a vida toma e que não dá para segurar ou governar?
Pensando melhor, talvez esteja só mudando. Evolução. Assim caminha a humanidade. Muito melhor pensar em mudança do que perda.
Em vez de pensar só em como se sofre por amor, passei a pensar nas mudanças que o amor sofreu. Talvez seja tudo uma questão de tempo. Depois que inventaram a linha de montagem, o automóvel, o avião e o trem-bala, o mundo passou a viver mais rápido. Deveria sobrar mais tempo, já que se faz tudo tão rápido, mas não é assim, temos cada vez menos tempo para as coisas de que mais gostamos. Conhecer alguém, com calma.
Para ver se dá para confiar, se acredita.
Para saber se vai sentir falta, precisa tempo. Mas aí, já passou o nosso tempo...
O mundo tem muita gente, menos repressão, gente nova em cada esquina, ofertas de encontros ainda não desgastados pelo tempo, e sem compromisso com o tempo de duração, o que diminui a exigência. Não é bem que o amor esteja se acabando – sem tempo para investir no decantado sentimento, virou quase passa-tempo. Passando a fase aguda, muitos amores passam.
Nenhuma condenação aos nossos tempos modernos. Não estaremos só querendo tempos mais livres, leves e soltos? Tanto foi se pendurando na conta do amor, através dos tempos – obrigações, imposições, rituais, cálculos, avaliações e regras - que nem sempre se dá o peso certo ao que realmente importa. Até porque para isso é preciso primeiro saber o que realmente importa, e os tempos agora são rasos e/ou rápidos... Acho que o que passou mesmo foi o tempo das grandes paixões. Capitus, Iracemas, Julietas, durmam para sempre. O pobre do amor romântico andou sendo acusado de ser muito prático – até com razão - mas acho que o que está valendo no momento, para não se perder tempo, é a praticidade mesmo.

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