terça-feira, 22 de maio de 2007

Araraquara à vol d'oiseau


Passei em Araraquara apenas um dia, mas acho que posso dizer que tenho uma visão dessa cidade do interior de São Paulo que a maioria de seus habitantes não tem. Voei de balão sobre Araraquara, numa tarde que começou muito tranqüila, a não ser pela minha consciência, pois tinha jurado que não iria embarcar em nenhuma aventura arriscada, já sabendo que não resistiria à tentação. Estávamos gravando um programa sobre dirigíveis, que ganhou o curioso título de “A Volta do Pássaro Prateado”. Curioso porque nem os dirigíveis estavam voltando, nem se tratava de um pássaro, naturalmente, e prateado, só contando com o brilho do sol em um determinado ângulo, mas como a licença poética existe para proteger os poetas e os editores, ele se chamou assim, e fomos lá, seguindo um apaixonado por balonismo que iria falar do prazer de voar, mesmo baixo e ao sabor do vento. E com ele aprendi em pouco tempo que não é muito confortável ficar ao sabor do vento. Mesmo conhecendo um pouco dos seus humores, como o nosso balonista devia - ou deveria - conhecer, na hora de descer, não contamos com bons ventos que nos levassem para terra firme. Percebi tarde demais que deveria ter feito a entrevista lá embaixo.
Na primeira tentativa de descer, assim que o balão tocou no solo, com um bom solavanco, nosso cinegrafista saiu da cesta, para sorte dele que, mesmo de forma um tanto brusca, pode desembarcar, e para pouca sorte nossa: aliviado do peso de uma pessoa e da câmera, o balão subiu como um foguete. Na segunda tentativa de aterrissagem, eu pulei fora, meio jogada pelo tranco, e novamente o balão subiu, para desespero do piloto. E subitamente a situação se inverte: lá de cima, apesar do medo por não estar conseguindo descer por causa do forte vento, a visão espacial e o silêncio nos davam uma ilusão de tranqüilidade. Caída sozinha em um pasto com o mato meio alto, todo o gado que eu tinha observado de cima, correndo em círculos, perturbado com a visão do balão, agora se encontrava a uma distância bem desconfortável, e eu não senti nenhum alívio por estar finalmente no solo. Tratei de pular logo uma cerca próxima e, ajudada por um menino a cavalo que parecia, ele sim, ter caído do céu, pude chegar à beira de uma estrada, apenas com um susto e alguns arranhões.
Ganhei do balonista um diploma de “voadora” com uma interrogação. Por ter abandonado o barco sem ordem do comandante, não tinha sido totalmente aprovada como tripulante, mas fiquei satisfeita. Voar é com os pássaros. Entrar num balão novamente, só no dia em que o balão carregar uma boa âncora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah, Vanda...
Assim me dá muita saudade do jornalismo e da adrenalina.
bjs
Regina

Anônimo disse...

Ah, e se souberes onde tem o dvd de uma das jóias do Altman, "Voar é com os pássaros" (acho que no original era Brewster McCloud) me avisa por favor.