sexta-feira, 4 de maio de 2007

Para viajar, basta existir (Fernando Pessoa)


Viagens de trabalho têm a propriedade de mudar o foco do nosso olhar. Não somos turistas, somos viajantes exercendo nosso ofício, no curso normal de nossas vidas, só que em outros lugares, entre outros povos. Estamos em outra terra, mas no mesmo barco, mais próximos das crianças que vão para a escola, do guarda que está cedo em seu posto. Também temos que acordar e cuidar das nossas obrigações, e ficamos com um olhar mais apurado para o dia a dia, para o que funciona ou não, e como funciona, as diferenças culturais que dificultam e emperram o que precisamos fazer.
Turistas têm outro espírito e outro tempo. Pode ser que um turista passe uma temporada no Cairo sem perceber que na cidade quase não existem sinais de trânsito, pode nunca ter precisado atravessar uma rua no caótico centro da cidade. Assistido e condicionado pelos guias e ônibus de turismo, talvez não tenha chegado a descobrir que para cumprir o ato banal de atravessar a rua tenha que “fechar os olhos, rezar e correr”, o conselho que ouvi de um egípcio (não é nada simples atravessar uma rua no centro do Cairo).
O barulho ininterrupto das buzinas que embalam o trânsito como se elas fossem o acelerador dos carros perturba mais quem tem que trabalhar, é impossível não registrar que no Cairo a hora do rush se estende por nove horas seguidas e que é essencial conseguir um quarto num andar bem alto para conseguir algum sossego.
Jornalistas têm o olhar treinado, e viajar com o sentido de observar as diferenças, pode ser um bom caminho para olharmos melhor para nós mesmos.

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