sexta-feira, 18 de maio de 2007

Na Amazônia, como um passarinho


Começar antes do começo, acordar antes do sol. Depois, tombo na lama, dor de barriga, medo de bicho no banho de rio. Todas as famílias de insetos ali representadas, dor, calor, cansaço, muito sol acabando com a pele, inferno verde. Farofa de farinha d’água num panelão comunitário. Acre. Chuva. Sol. Roupa molhada secando no corpo. Chuva de novo subindo o rio. Barco quase virando na corredeira. Estresse na equipe, raiva e desconsolo. Insegurança, produção meio fora de controle, não dá para controlar a Amazônia, quem conseguiu? Madeira-Mamoré, Projeto Jari, quantos outros não nos deixam mentir? Mosquito demais – qual, repelente natural!?! - calor demais, o calor amazônico é sólido, quase palpável, as dificuldades são concretas, quase intransponíveis. Não tem a moleza baiana, a calma no Norte é imperativa e forte.
Com tudo isso, o que é que faz a gente gostar tanto da Amazônia? Qual o estranho e poderoso fascínio daquela região onde as distâncias são sempre – mal! - calculadas em horas, dias, léguas de desconforto, calor e suor? A sensação tão boa do único momento de frescor, não dá para contar sem viver.
A primeira coisa que se percebe na Amazônia é que as soluções pensadas no sul – que é como lá chamam o Brasil do meio para baixo - não são geralmente as que lá desejam, esperam e necessitam os amazônicos. Talvez esteja aí a explicação da potente atração amazônica, mais do que a beleza e a riqueza da floresta: encontramos uma terra mais forte e livre do que o estresse absoluto, provocado pela violenta cobrança - nem sempre consciente - em que vivemos permanentemente, quase-objetos que somos do mundo tido como civilizado. Seres civilizados e profissionais competentes que orgulhosamente somos, empurrados pela concorrência, nossa vida é calculada, nosso tempo é loteado - até no lazer, nossa eficiência é exigida em tudo o que fazemos. E de repente bate na nossa cara uma terra transbordante, exuberante, grande, fora das medidas. Nos sentimos então um pouco pequenos, e por isso, um pouco menos responsáveis, mais tolerantes, menos cobrados por alguma coisa que fique fora de tempo e lugar. Aprendemos a aceitar o que nos é dado, e a nos largamos um pouco. Se a rede não foi inventada lá, deveria ter sido. Faz parte do cenário, do ritmo e do aconchego amazônico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por onde estiveste andando?
O Paulo Francis dizia que o clima daqui era feito para onças, eu li. As pessoas às vezes ficam insultadas com isso. Eu, não. É difí­cil mesmo quanto aos carapanãs, maruins e mucuins, ah, só quem já passou por uma sova bem dada por eles sabe o que é.
Agora, que é duro de aguentar o papo dos colonizadores que planejam todas as soluçõs à distância, ah, é pior do que carapanã, maruin e micuin juntos.
bjs, Vandinha, e bom dia
Regina