sábado, 26 de maio de 2007

O Japão, a Ostra, o Vento


Para tentar entender o Japão, o caminho é ficar atento às diferenças. Elas são grandes, não somos tão opostos no mapa-múndi impunemente. E são tantas, que só poderiam mesmo exercer uma atração muito forte sobre nós. O Japão fascina, em primeiro lugar, os nossos olhos: a estética da paisagem, a beleza da comida, seja nos exóticos mercados, nas bandejas prontas vendidas em quiosques nas estações dos trens, ou nas delicadas lojas de doces.
As delícias japonesas, uma comida que já não estranhamos, mas que ainda tem muito mais a oferecer, começam pelos bifes mais macios - e mais caros - do mundo, que encontramos em Kobe.
Em Okinawa, berço do karatê e de uma população que, com uma alimentação sábia, chega fácil aos cem anos, encontramos nosso primeiro tufão. Uma sensação para nós. Para os japoneses, rotina.
E previsão: na cidade, as árvores são amarradas no chão para não voarem com o vento.
Um tufão estava em nosso caminho também na ilha e no museu das pérolas, mas mesmo assim pudemos ver mais beleza e delicadeza cultivadas por mãos japonesas.
Em Tóquio, os luminosos futuristas e mais um tufão, cujos estragos foram perfeitamente controlados poucas horas depois.
Nosso tempo lá era bem curto, havia muito para ver e fazer, e os apelos à dispersão também eram muitos. Nossos guias japoneses sabiam disso, e a agenda era quase uma camisa-de-força, cinco minutos de atraso é falta grave, outra surpresa para nós: a pontualidade no Brasil merece respeito, mas não tem uma cotação assim são alta. A observação do nosso repórter, que não era, como a produtora aqui, marinheiro de primeira viagem em terras nipônicas, é esclarecedora: num país onde a força (e muitas vezes, a fúria) da natureza controla a vida, tudo que é possível controlar, os japoneses controlam, com determinação japonesa.
As crianças aprendem bem cedo na escola as técnicas de comportamento durante um terremoto. Tudo é calculado.
A presença dessa força na vida dos japoneses foi perfeitamente comprovada quando descobrimos que nossa intérprete, japonesa, dormia, por muitos anos, com uma mochila, água e biscoitos na cabeceira da cama, prevendo terremotos. Depois cansou, ela confessou. Ninguém é de ferro, nem mesmo os japoneses. Aí cessam as diferenças. Somos todos humanos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô, Vandinha, é loucura a vida de jornalista sim, mas também é muito bom a gente poder andar pelo mundo e depois ter um monte de histórias para contar.
Eu, aqui do sedentarismo acadêmico, fico morta de saudade a cada vez que visito teu blog.
Estás me desencaminhando.
bjs
Regina